Folha de S. Paulo


Juiz suspende nomeação de mulher de Pimentel como secretária

Omar Freire - 1º.jan.2015/Imprensa MG
fernando Pimentel com sua esposa, Carolina Oliveira, no dia da sua posse como governador de MG
fernando Pimentel com sua esposa, Carolina Oliveira, no dia da sua posse como governador de MG

A Justiça de Minas Gerais determinou nesta quinta-feira (12) que o governador Fernando Pimentel (PT) suspenda a nomeação da mulher, Carolina de Oliveira Pimentel, para o cargo de secretária de Trabalho e Desenvolvimento Social. Ela é investigada pela Polícia Federal e o posto garante foro privilegiado.

A decisão, de caráter liminar (provisório), foi dada pelo juiz Michel Curi e Silva, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Belo Horizonte, após deputados da oposição entrarem com ação contra o ato do governador.

O magistrado dá 48 horas para que a nomeação seja suspensa por Pimentel ou pelo advogado-geral do Estado, sob pena de envio dos autos ao Ministério Público para que o órgão apure se houve crime de desobediência. Procurado pela reportagem, o governo disse que não foi notificado para prestar esclarecimentos e que irá recorrer.

Na liminar, Curi e Silva afirma que há indícios de "desvio de finalidade" na nomeação. Ele compara Pimentel a um "imperador romano" e cita um episódio de Júlio Cesar que, segundo ele, deu origem ao provérbio: "A mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta".

"Isso significa dizer que não basta que o administrador público seja honesto e honrado; é preciso que sobre ele não paire nenhuma suspeita. No caso vertente, tal premissa também se aplica a Carolina de Oliveira Pimentel", afirma o juiz.

O magistrado também rebate os argumentos do governo de que a nomeação já era planejada e de que o então secretário, André Quintão, retornaria ao cargo de deputado estadual para ajudar a gestão em votações. O juiz argumenta que Carolina estava de licença-maternidade e que o governo já tem ampla maioria no Legislativo estadual.

"É fato público e notório que a requerida figura como investigada em operação da Polícia Federal, autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça. Neste passo, a alegação de que o ato de nomeação visa conferir prerrogativa de foro se mostra mais do que plausível; em verdade, mostra-se bem crível", diz Curi e Silva.

Ainda cita como exemplo, sem usar nomes, a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma Rousseff, suspensa pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Em nota, o governo de Minas Gerais disse que não houve notificação ou intimação para prestar esclarecimentos. "O governador, a secretária de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social ou a Advocacia-Geral do Estado não receberam nenhuma notificação ou manifestação oficial do Poder Judiciário sobre o assunto", diz o comunicado.

"Causa estranheza deferir uma liminar para suspender um ato jurídico sem que, até o momento, tenha sido informado ao Estado a natureza ou a motivação desta suspensão. Informamos, por fim, que a AGE vai apresentar recurso a esta decisão e lamentamos que um assunto de tamanha importância tenha sido tratado de forma precipitada e parcial", acrescenta o governo.

FORO PRIVILEGIADO

O processo contra Carolina Pimentel corre no STJ, mas com a nomeação o Tribunal de Justiça mineiro poderia julgar possíveis processos contra ela no âmbito da Acrônimo.

A mudança é prevista em dois artigos da Constituição do Estado, que dão ao tribunal a competência de julgar crimes comuns e de responsabilidade de secretários.

O caso está sob responsabilidade do STJ por conta do envolvimento do governador. Se houver um desmembramento do processo e Carolina for julgada em separado, haveria divergências sobre o tribunal para onde seriam enviados os autos, segundo especialistas consultados pela reportagem: se o próprio TJ ou o Tribunal Regional Federal.

Caso isso ocorresse, ela teria oportunidade de apresentar maior quantidade de recursos. Para oposicionistas, a própria disputa de competência pode beneficiar a mulher do governador com prazos mais amplos para julgamento.

A primeira-dama é suspeita de ter recebido, por meio de sua empresa, a Oli Comunicação, valores que na verdade teriam sido transferidos para a campanha do governador em 2014. Em maio do ano passado, uma antiga residência dela foi alvo de busca e apreensão.

No último dia 6, a Procuradoria-Geral da República ofereceu denúncia contra Fernando Pimentel sob suspeita dos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade de documento particular.


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