Folha de S. Paulo


'Temer direciona Brasil a tempo de solidez', diz Trabuco; veja repercussão

O presidente executivo do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, manifestou otimismo com o afastamento da presidente Dilma Rousseff. "Temos a expectativa de que o governo de Michel Temer direcione o Brasil a um novo tempo de solidez, um país pensado para fluir", disse.

José Augusto Fernandes, diretor da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), aponta melhora na percepção do mercado sobre a economia brasileira sob novo governo, mas pondera que é preciso trabalhar para melhorar os fundamentos. "Não há uma bala de prata, mas cinco ou seis iniciativas que mostrarão que o regime mudou", disse.

Personalidades da cultura também reagiram à decisão. O jornalista e escritor Zuenir Ventura diz que Temer tem pouco tempo para atestar sua competência. "Para enfrentar uma crise sem precedente, ele vai ter pela frente o PT, que, como já provou, é mais competente na oposição do que no governo", observou.

Veja abaixo outras reações.

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LUIZ CARLOS TRABUCO CAPPI, presidente executivo do Bradesco

"Esta é a oportunidade de nos darmos conta de que a luta contra a recessão é a prioridade máxima do país. O motor do crescimento está aqui, temos consumidores, temos uma economia diversificada, avanço tecnológico e uma grande demanda reprimida por investimentos na infraestrutura e novas plantas industriais. Outra vantagem é que temos uma curva de aprendizado excepcional em termos de experiências econômicas. Sabemos o que deve ser feito. Temos a expectativa de que o governo de Michel Temer direcione o Brasil a um novo tempo de solidez, um país pensado para fluir. Entendemos que Henrique Meirelles seja o nome certo para dar estrutura, hierarquia e clareza à política econômica. O Brasil não pode mais ficar aprisionado a esse feitiço do tempo, no qual os dias apenas se repetem. O tempo passa rápido e assim deve ser. Os desafios estão aí para serem vencidos."

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FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos)

"O vice-presidente Michel Temer assume [interinamente] a Presidência da República em momento difícil, mas acompanhado de expectativas positivas de que enfrentará os problemas do país nas linhas apontadas no programa 'Ponte para o Futuro'. A Febraban associa-se aos que veem na nova equipe de governo capacidade de superar os desafios econômicos e manifesta seu apoio, em especial, aos novos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Romero Jucá."

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ANTONIO MEGALE, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores)

"Esperamos que a nova equipe concretize ações que estimulem a retomada da confiança e, consequentemente, da atividade econômica brasileira. Uma visão de longo prazo é fundamental para a previsibilidade, tão necessária para o planejamento e o desenvolvimento."

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LÁZARO DE MELLO BRANDÃO, presidente do Conselho de Administração do Bradesco

"Temos esperança e confiança no novo governo. Sem euforia, sabemos das dificuldades à frente e estamos prontos para enfrentar os desafios. Não podemos ceder à inércia da desesperança. O Brasil tem economia forte e população trabalhadora. Há pilares que nos dão ânimo. Enfatizamos que o tempo é curto e precisamos de uma condução firme, mas de consenso possível, para superarmos o atual momento."

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JOSÉ AUGUSTO FERNANDES, diretor de Políticas e Estratégia da CNI (Confederação Nacional da Indústria)

"Percebemos que, nas últimas semanas, com a perspectiva do impeachment, houve claramente uma mudança de humor. As pessoas estão com um pouco mais de confiança com o desenho da política econômica do futuro. Mas a expectativa tem de se transformar em ação. Para desengavetar seus projetos, as empresas e os empresários estarão prestando atenção à agenda apresentada e desenvolvida, e o primeiro desafio [do governo] é mostrar que tem um plano coerente para a questão fiscal. Também precisa melhorar o ambiente de negócios em questões regulatórias de baixo custo fiscal que exigem coordenação política, caso da regulamentação da lei da biodiversidade. Não há uma bala de prata, mas cinco ou seis iniciativas que mostrarão que o regime mudou."

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WESLEY BATISTA, presidente da JBS S/A

"Esperamos que o Brasil possa dar o próximo passo em direção às reformas estruturantes, para diminuir o custo Brasil. Claro que a [reforma] previdenciária é importante, mas tributos e assuntos da relação de trabalho são coisas que sentimos na carne, como é tão caro a operação por aqui."

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Fecomercio-SP, trecho da nota oficial da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo

"Apesar de otimista, a federação pondera que o novo governo precisará abrir mão de objetivos políticos de curto prazo para adotar uma agenda de modernização oposta ao populismo que direcionou as políticas públicas tantas vezes ao longo da história. Em vez de expandir o crédito e os gastos, o que somente agravaria a situação, é preciso colocar a casa em ordem para incentivar os investimentos e, assim, dar início a um novo círculo virtuoso da economia brasileira."

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CNA, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

"O Brasil tem hoje razão para otimismo. Superamos uma grave crise política por meio do funcionamento pleno das instituições democráticas. Temos condições de reencontrar o equilíbrio perdido e recuperar as condições para crescer de modo sustentável. Nós, do setor agropecuário, continuaremos acreditando e produzindo, certos de que o futuro será construído por todos."

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ALENCAR BURTI, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP)

"Os problemas não serão resolvidos num passe de mágica. Mas, à medida que forem sendo equacionados, permitirão que os agentes econômicos se antecipem à melhora efetiva da economia, contribuindo para que a retomada seja observada mais rapidamente."

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CARLOS PASTORIZA, presidente do Conselho de Administração da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos)

"A nossa expectativa não tem relação partidária, mas esperamos que se vire a página dessa crise política porque a economia está derretendo e as empresas estão fechando ou demitindo. Não dá mais para postergar os ajustes importantes. Nós precisamos agir para que se volte o consumo, o crescimento e os investimentos do país. A indústria de máquinas e equipamentos é a primeira a sofrer e a última a reagir em uma crise. Precisamos ter governantes com perfil de estadistas e que não pensem na próxima eleição, mas na geração que virá. Abre-se uma janela de esperança em um primeiro momento, mas que poderá ser fechada rapidamente se o novo governo não mostrar rapidamente a que veio."

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GOVERNO DA ARGENTINA, em nota oficial

"Tendo em vista os acontecimentos no Brasil, o governo argentino manifesta respeito ao processo institucional em curso e confia que fortaleça a democracia brasileira. Nesse sentido, o governo argentino continuará dialogando com as autoridades constituídas a fim de seguir avançando no processo de integração bilateral e regional."

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DAVID UIP, infectologista e secretário do Estado de SP da Saúde

"Estou triste e preocupado, mas nem dá mais para discutir. Isso [impeachment] já é passado. Precisamos resolver nossos problemas, nos modernizar, ir pra frente, e esse processo [de impeachment] só retarda tudo. A saúde é um ponto absolutamente nefrálgico desse futuro governo. Nós temos muitos problemas que precisam de respostas imediatas, não dá para esperar."

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MIGUEL SROUGI, urologista e professor da USP, defensor do impeachment de Dilma

"Cada um enxerga o mundo com os valores que carrega no coração. Como médico e, principalmente, como cidadão, vivo um momento insuportável. Não por causa de números, estatísticas ou leis insondáveis, mas sim porque a sociedade brasileira foi devastada por governantes que arruinaram a vida e o futuro de um número despropositado de membros da nação."

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FELIPE HIRSCH, diretor e dramaturgo, cofundador da Sutil Companhia de Teatro

"[O impeachment] foi um processo manipulado pelo interesse de uma oposição desorganizada, que nunca deixou clara qual seria a sua proposta para o país. Foi uma manipulação política, de poder, para tirar o PT e a Dilma. É claro que qualquer pessoa que tenha apoiado a esquerda ou o PT no governo tem noção de muitos dos erros do PT nessa gestão. É importante que a gente perceba que foi a esquerda quem convidou os vampiros para entrar em casa. O PT está colhendo o fruto de vários erros, inclusive desvios éticos graves."

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PAULO LINS, escritor, autor de "Cidade de Deus"

"Faço das palavras do [jornalista ganhador do Pulitzer em 2014] Glenn Greenwald as minhas: 'Eles cansaram de perder eleições; então, em vez de continuar tentando, resolveram destruir a democracia'."

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PT, nota oficial do Partido dos Trabalhadores

"A admissão do processo de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, aprovada pelo Senado Federal, é a continuidade do golpe contra a democracia e a Constituição".

"Não descansaremos um só minuto até que a presidenta de todos os brasileiros, sufragada em eleições livres e diretas, retorne ao comando do Estado, como é a vontade soberana e constitucional do povo brasileiro"

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SOLIDARIEDADE, nota oficial do partido Solidariedade

"Com a decisão, o Brasil deixa para trás um capítulo vergonhoso de escândalos de corrupção sem precedentes, que manchou a honra e a autoestima do nosso povo"

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ZED NESTI, artista plástico, autor da exposição parainglesver.com

"Vendo o motivo –as pedaladas–, percebo que [o impeachment] é coisa que pode ser manipulada; é algo pantanoso. Vendo os senadores falando na TV hoje, fica claro que [pedaladas] são meio que uma desculpa: todos estão descontentes com outras coisas. Eu sou contra a anulação do poder do voto. Mas, ao mesmo tempo, seria ingenuidade minha acreditar que PT, Lula e Dilma lutam pelo povo –veja a dívida pública, os lucros dos bancos sempre crescentes, os conchavos... Por outro lado, o governo do Temer é um retrocesso. É uma mentalidade maluca, que vai contra as conquistas de mulheres, de gays, de negros. Mas fico otimista com mudança: tínhamos de ser chacoalhados."

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ZUENIR VENTURA, jornalista e escritor, autor de "1968: O Ano que Não Terminou"

"Como leigo que desconhece as filigranas da Justiça, acho que teria sido, senão mais justo, pelo menos mais convincente que Dilma fosse afastada pelo conjunto da obra e não pelos dois motivos a que o julgamento ficou restrito. Por isso, não comemorei nem lamentei o desfecho. Fiquei, sim, apreensivo com o que vai acontecer daqui para a frente, que é o que interessa agora. Temer terá que provar em pouquíssimo tempo que não apenas não será mais do mesmo, mas que será melhor, ou seja, que não houve a troca de seis por meia dúzia. Para enfrentar uma crise sem precedente, ele vai ter pela frente o PT, que, como já provou, é mais competente na oposição do que no governo. Lula, do lado de fora, comandando os movimentos sociais, pode incendiar um país com 12 milhões de desempregados –a não ser que a Lava-Jato... Mas aí ninguém está livre, nem o próprio Temer."

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J.P. CUENCA, escritor e colunista da Folha

"Vivemos para ver em 2016 um golpe de estado travestido de rito constitucional, conduzido por uma corja de falsos moralistas, cretinos, néscios e ladrões, transmitido ao vivo pela TV Torcida e pela Torcidanews em sessões da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. "

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EMIDIO DE SOUZA, presidente do Diretório Estadual do PT

"O Brasil amanheceu mais pobre e atrasado hoje. O século XX atropelou o século XXI. A elite e os que agem como se fossem da elite, mais uma vez golpearam a Democracia, debocharam das instituições e sapatearam sobre a Constituição brasileira".


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