Folha de S. Paulo


Para presidente do PMDB, Temer foi útil ao governo nas eleições

Pedro Ladeira/Folhapress
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) discursa na tribuna do Senado Federal, em Brasília (DF). Foi o primeiro discurso do senador depois de assumir o posto de presidente do PMDB
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) discursa na tribuna do Senado Federal, em Brasília (DF)

Publicamente favorável ao impeachment de Dilma Rousseff, o presidente interino do PMDB, senador Romero Jucá (RR), tomou a tribuna do Senado na noite desta segunda-feira (18) para responder a petista que, em declaração à imprensa nesta tarde, acusou o vice-presidente, Michel Temer, de trair e conspirar abertamente contra ela.

Para o peemedebista, o resultado da votação do impeachment neste domingo (17) mostrou que o governo não conseguiu angariar apoio no Congresso desde o início do segundo mandato da presidente e disse que, quando o PT precisou compor com o PMDB para ampliar seu tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, Temer "era o melhor homem do mundo para compor a chapa".

"Me desculpe a presidenta, eu não tenho nada contra ela, mas ela não tem condição de questionar moralmente Temer. [...] O presidente Temer veio para a campanha, trazendo o maior partido do Brasil para a campanha de 2014, elegemos o maior número de governadores e demos o maior tempo de televisão. Será que se ele não fosse o vice na chapa, ela teria ganho a eleição, com três milhões de votos de diferença?", disse.

O peemedebista questionou ainda o discurso do governo de que, se o impeachment for derrubado no Congresso, Dilma ainda tem capacidade de salvar o seu governo. "Se até ontem tínhamos uma solução com Dilma, porque não podemos ter daqui a 15 dias uma solução com Michel?", disse.

Segundo Jucá, os 137 votos obtidos pelo governo na votação do impeachment na Câmara equivalem ao total que o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) obteve quando disputou a presidência da Câmara contra o atual presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no ano passado. "Com a distribuição de ministérios, esforço, apelo do presidente Lula, todo tipo de movimentação dos governadores, pressão, contrapressão, e o que é que nós vimos? A esquálida base do governo mantida da forma como o PT teve votos lá na Câmara na disputa contra Eduardo Cunha", afirmou.

Um dia após a Câmara aprovar a continuidade do processo de impeachment, o senador disse "lamentar" o posicionamento de Dilma. Segundo Jucá, caso o processo de impeachment de Dilma seja avalizado pelo Senado, Temer será apenas "alguém que estava no lugar certo, na hora certa".

O senador também cobrou uma fatura do governo ao afirmar que o Senado sempre conteve as pautas bombas aprovadas pela Câmara. "As pautas-bombas foram armadas na Câmara mas foram desarmadas no Senado. O governo não pode reclamar disso", disse.

Em um aparte a Jucá, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), ressaltou pesquisa Datafolha que mostrou um percentual de 54% a favor do impeachment de Temer entre o grupo que também defende o afastamento de Dilma.

"Temer não aguenta três meses de governo. Quem diz que vamos ter estabilidade, está enganado. Basta sentar na cadeira, para o povo brasileiro pedir a cabeça dele, porque não tem legitimidade, é fruto de um processo de golpe".

Em resposta, Jucá afirmou que a tentativa é de se "buscar alternativa dentro da Constituição". "Se houver afastamento vamos saber o tipo de aprovação do governo eventual do Michel daqui seis meses. Hoje, a Dilma é uma certeza de desastre. O Michel pode ser uma possibilidade de acerto", afirmou Jucá que ainda falou diretamente à Lindbergh, em tom de brincadeira: "Um dia vou recuperá-lo. Minha missão franciscana. Não vamos desistir de você, vamos trazê-lo para o lado certo da força".


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