Folha de S. Paulo


Funk contra impeachment atrai 50 mil a Copacabana, estimam organizadores

Silvia Izquierdo/Associated Press
People gather to protest against the impeachment of Brazil's President Dilma Rousseff, in Rio de Janeiro, Brazil, Sunday, April 17, 2016. Emotions have been running high since the impeachment proceedings began in the Chamber of Deputies on Friday, with lawmakers holding raucous, name-calling session. Outside the legislature, waves of pro-and anti-impeachment demonstrators are expected to flood the capital, Brasilia. (AP Photo/Silvia Izquierdo) ORG XMIT: XSI103
Manifestantes na orla da praia no Rio de Janeiro

A manifestação contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff na manhã deste domingo (17) na praia de Copacabana, zona sul do Rio, reuniu 50 mil pessoas, segundo os organizadores.

O número, porém, foi menor do que o esperado pela organização, que prometia 100 mil pessoas no ato, convocado pela produtora de bailes funk Furacão 2000 e pela Frente Brasil Popular.

A convocação nas redes sociais dizia que a favela iria descer para as ruas e se engajar na luta contra a queda da presidente.

A previsão, no entanto, não se concretizou na proporção anunciada. O que se viu foi a adesão de manifestantes de classe média, centrais sindicais, movimentos sociais, partidos de esquerda e estudantes.

Os próprios organizadores reconheceram o que o público não era majoritariamente de favela. Ressaltaram, contudo, que houve, sim, a adesão pontual de manifestantes de comunidades cariocas.

"Nós tivemos pouco tempo para organizar o protesto. Havia também um temor muito grande de confrontos com o outro lado. No final o balanço foi positivo, acho que deu mais de 50 mil pessoas. Mesmo que a massa não tenha descido em peso como gostaríamos, a favela sabe que o governo do PT foi o que mais investiu no Rio e proporcionou uma vida melhor para os pobres", disse o empresário Rômulo Costa, fundador da Furacão 2000.

A partir das 15h, grupos a favor do impeachment também iniciam sua mobilização na orla de Copacabana.

Diante do temor pelo confronto entre os dois lados, a PM do Rio reforçou o policiamento na orla, com 800 homens. Um cordão de isolamento feito por policiais próximo ao posto 3 da orla, onde o protesto começou.

A PM não faz estimativa de público em manifestações. No auge do protesto, por volta de meio-dia, o público ocupava as duas pistas da avenida Atlântica, ao longo de dois quarteirões. O protesto começou às 9h e terminou por volta das 13h.

MORADOR DE FAVELA

O estudante de serviço social Silas de Oliveira, 28, era um dos moradores de favela no protesto.

Morador da comunidade de Vila Aliança, em Bangu, zona oeste, ele é beneficiário do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e será o primeiro de sua família a se formar na universidade.

"Eu tenho pai e mãe pobres. Nunca teria tido a oportunidade de estudar se não fosse pelo governo do PT. Estou aqui defendendo meu voto, que precisa ser respeitado", disse.

Além da série de funks executada no carro de som da Furacão 2000, houve discursos de políticos locais e de funkeiros.

Palavras de ordem foram direcionadas principalmente contra o que classificam como golpe e também contra o vice-presidente, Michel Temer, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Não houve manifestações contra a operação Lava Jato ou críticas ao juiz federal Sérgio Moro.

Os manifestantes reagiam com vaias quando defensores do impeachment se manifestavam nas janelas dos apartamentos de frente para o mar. Alguns moradores, no entanto, agitaram bandeiras vermelhas do alto de prédios e recebiam aplausos do público.

DISCURSO DE ÓDIO

Uma manifestante levava um cartaz com a mensagem: "faça análise, não faça golpe".

A psicanalista Shantala Pontes, 28, moradora de Niteroi, teve a ideia porque disse perceber em seu consultório o crescimento do discurso de ódio entre os insatisfeitos com o PT.

"Freud diz que as pessoas buscam a figura de um herói nesses momentos de dificuldade, mas eu vejo que é um discurso pronto que embute vários preconceitos e é perigoso", disse.

Um homem destoava da multidão por usar camisa do Brasil– um dos símbolos dos apoiadores do impeachment– e uma placa com o apelo "Dilma fica".

Camelô e morador de Nova Iguaçu, Carlos Henrique, 46, disse que sua vida melhorou com o governo do PT.

"Eu consegui um emprego quando o Lula entrou. Hoje eu posso comer de tudo e tomar a minha cervejinha despreocupado, coisa que eu não conseguia porque não sobrava dinheiro. Eu não entendo de política, mas quero que a Dilma fique", disse ele.


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