Folha de S. Paulo


Sessão esfria e abre espaço para cartazes e piadas involuntárias

O primeiro dia de discussão na Câmara dos Deputados do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff teve pela manhã os momentos mais acirrados de embates, seguidos rapidamente por um esvaziamento do plenário.

Às 16h30, quando o painel registrava 460 deputados presentes na Casa, apenas cerca de 30 estavam no plenário.

Ou seja, embora a ampla maioria dos 513 deputados tivesse comparecido à sessão, quase nenhum deles permaneceu para acompanhar os discursos.

Parlamentares da oposição levaram cartazes de "Tchau querida" e "Impeachment já" e estenderam por alguns segundos uma faixa com os dizeres "Acabou a boquinha".

Gabriel Mascarenhas/Divulgação
Deputado Fernando Francischini (SD-PR)
Deputado Fernando Francischini (SD-PR)

Fitas verde-amarela usadas como cachecol eram distribuídas por Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP) e por integrantes do DEM.

Caio Nárcio (PSDB-MG) ouviu discursos enrolado em uma Bandeira Nacional, também exibida pelos principais nomes da bancada do PSDB para uma fotografia no momento em que discursava, na tribuna, o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA).

Do outro lado do plenário, parlamentares de siglas favoráveis à permanência de Dilma, como PT e PSOL, exibiram cartazes de "Não vai ter golpe" e "Impeachment sem crime é golpe". Dois parlamentares do PSOL no Rio, Chico Alencar e Glauber Vraga, levantaram cartazes contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP). Ele diziam "Cunha/Temer, chefes do acordão" e "Temer/Cunha, unidos pelo fim da Lava Jato".

A sessão foi aberta pontualmente às 8h55, com a exposição da acusação. O advogado Miguel Reale Jr., um dos autores do processo de impeachment e ex-ministro da Justiça do governo FHC, defendeu seus argumentos para a saída de Dilma. Estavam presentes 148 deputados.

Seguiu-se o tempo da defesa, feita pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, que atacou a oposição e o presidente da Câmara, acusando-o de dar início ao processo de impeachment da presidente como uma "chantagem". Quando Cardozo falou em "golpe", os oposicionistas reagiram com gritos de "Fora PT" por alguns segundos.

Logo após deixar o plenário, Cardozo foi cumprimentado por aliados como o deputado Orlando Silva (PCdoB), que lhe disse próximo ao ouvido: "O seu discurso eleva o moral da nossa tropa. E tem muita gente indecisa aí. Eles estão falando que já ganhou mas não ganhou".

Esses foram os momentos em que o plenário esteve mais cheio.

Seguindo o trâmite da sessão, após a fala de Cardozo cada um dos partidos com representação na Casa passou a usar uma hora para expor suas posições na tribuna. A partir daí, os deputados começaram a dispersar.
Pouco antes de meio-dia, quando o PMDB utilizava seu tempo regimental, apenas a parte da frente do plenário estava ocupada. Quando chegou a vez do PT, a maioria dos presentes era formada por petistas e integrantes do PCdoB, que se colocaram à frente da tribuna e aplaudiam os deputados que discursavam.

O mesmo ocorreu com os demais partidos que se seguiram, como PSDB, quando a maioria presente em plenário eram deputado tucanos e alguns outros da oposição, que demonstravam apoio às falas contra Dilma.
No Salão Verde, o único acesso liberado ao plenário, por onde os deputados costumam circular, havia desde o início da sessão muito mais jornalistas do que parlamentares.

Na tribuna, os deputados fizeram críticas e defesas ao governo Dilma Rousseff, algumas gerando piadas involuntárias, como quando Laerte Bessa (PR-DF) chamou a presidente, duas vezes, de "Dilma Russéti". Ou quando o deputado Covatti Filho (PP-RS) fez uma correlação entre petistas e pombos que fazem "necessidades em cima de um tabuleiro". A deputada Carmen Zanotto (PPS-RS) também escorregou no discurso ao citar palavras de "baixo escalão".

Após ler um versículo da Bíblia, Marco Feliciano (PSC-SP) disse que "se o que está escrito na nossa bandeira é 'Ordem e Progresso', a ordem será restabelecida".

Alguns parlamentares elevaram o tom sobre a presidente. Bessa a chamou de "bandida" e Nilson Leitão (PSDB-MT) disse que "a presidente Dilma não é apenas sórdida".


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