Defensor ardoroso do impeachment da presidente Dilma Rousseff, Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), se reúne com frequência com o vice-presidente Michel Temer (PMDB).
Nesta terça (29), quando o PMDB rompeu com o governo, ele diz que o partido deu também uma "demonstração de unidade" para a votação do impeachment.
Derrotado na eleição ao governo paulista em 2014, Skaf é apontado como pré-candidato ao mesmo cargo em 2018, de novo pelo PMDB.
Acusado de fomentar a divisão no país –fornecendo até comida aos apoiadores do impeachment acampados na av. Paulista–, ele rechaça, em entrevista à Folha, o rótulo de "marechal de impeachment".
"O Brasil tem coisas muito mais importante para se preocupar do que se seis, sete, oito jovens almoçaram aqui [na Fiesp] ", afirmou.
Ao responder se estava arrependido de oferecer guarita aos manifestantes pró-impeachment, foi enfático: "Faria tudo de novo".
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Folha - O sr. acredita que a partir de agora o PMDB pode se engajar mais no movimento pelo impeachment?
Paulo Skaf - Não tenho dúvida nenhuma. A votação pelo rompimento por aclamação e a demonstração de unidade do partido mostram também que o PMDB está unido pelo impeachment.
O PMDB deve aderir aos atos pró-impeachment?
A partir desse rompimento claro e unânime, o PMDB reconheceu, para o bem da nação brasileira, que não há mais possibilidade de esse governo continuar. Não tenho a menor dúvida que o passo seguinte será uma investida forte para a aprovação do impeachment.
O sr. manifesta preocupação com aumento de tributos. Em algum momento, o sr. recebeu alguma garantia que em um possível governo Temer não haverá aumento de impostos?
É muito clara a minha posição e da Fiesp contra o aumento de impostos. Qualquer que seja o governo ou presidente, minha posição e a da Fiesp não mudarão.
O sr. é acusado de fomentar os atos pelo impeachment e acirrar os ânimos.
Não estamos fomentando o acirramento de ânimos, até porque a tentativa de dividir a nação não é nossa. Nossa preocupação hoje é com o bem do Brasil.
O sr. quer dizer que isso começou com o PT?
O PT tem muitas vezes essa característica de pregar a tentativa de uma divisão da nação. Na semana passada, quando estava marcado o ato do PT [na avenida Paulista], fui um dos que defenderam que, se a sociedade vai às ruas com a bandeira de moralidade, tem que respeitar a palavra. Quando a gente quer defender a moralidade, tem que dar o exemplo.
Precisamos colocar velocidade para sair dessa situação, porque está custando caro aos brasileiros. E o que a gente observa é um governo que só tem preocupação de se autodefender.
Temer está preparado para assumir a Presidência?
Ele é o vice-presidente, e a Constituição determina que, no impedimento do presidente, o vice assume. Isso não está em discussão, não cabe a nós analisarmos o perfil do vice, uma vez que a Constituição determina.
O vice já orientou o sr. sobre apoiar ou não o impeachment?
O vice-presidente não dá essa abertura para se ficar falando de impeachment. Pelo contrário. Ele tem se portado com bastante ética nesse processo e com muita discrição, o que é do perfil dele.
Em algum momento Temer pediu que o sr. moderasse o tom?
Vou repetir: o presidente Temer é uma pessoa muito respeitadora. Ele nunca me pediu nada em relação ao impeachment e nunca me pediu para moderar nada. Ele respeita muito a minha posição porque sabe que neste momento a minha missão, acima de tudo, é presidir as entidades com isenção.
É possível recuperar a economia ainda neste governo?
Com a atual presidente, não creio que haja recuperação de confiança e de credibilidade, e sem isso não há economia que caminhe. Por isso é que há necessidade de uma mudança. Acredito que a mudança não resolva os problemas, mas faz renascer a esperança e a confiança.
O momento requer uma concertação com o PSDB?
No caso do impeachment, tem de haver diálogo com todo mundo. Se tiver que compor para formar o ministério, na minha visão, tem de se encontrar as melhores cabeças para ocupar os cargos.
O sr. almeja ser ministro de um possível governo Temer?
Absolutamente. Não almejo nada.
O sr. falou sobre a desconfiança da população em relação à classe política. Não há um constrangimento para o PMDB ter o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em seus quadros?
Aprendi com um médico. Quando você tem um paciente com vários problemas, precisa se concentrar no mais grave. O momento é de paralisia no Brasil, com um governo querendo se salvar e fazendo coisas absurdas, como foi essa tentativa de o Lula virar primeiro-ministro ou presidente sem ter sido eleito.
Muitos o acusam de querer tirar proveito eleitoral desse apoio ao impeachment, já que teria pretensões eleitorais.
Muito gente dizia que eu seria candidato a prefeito neste ano. Se eu quisesse, o partido me daria a legenda sem dúvida. Quanto a 2018, temos três anos daqui até lá. Não está na minha mão. Não sei o que vai ser da minha vida daqui a três anos. Isso eu deixo na mão de Deus. Não é momento de oportunismo.
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SUPER-PATO
Os patos infláveis da Fiesp de Paulo Skaf nasceram em setembro de 2015, como marca da campanha da entidade contra o aumento de impostos e a retomada da CPMF.
Hoje, diz Skaf, "o pato já não é da Fiesp, ele é um símbolo da sociedade".
"O pato é aquele símbolo do bem para acabar com o mal. É uma figura alegre, simpática e que, de uma forma respeitosa, mostra uma indignação. Até as crianças gostam dele."
Nesta terça (29), a Fiesp inflou um pato gigante, de 20 metros, e instalou cerca de outros 5.000 patinhos amarelos em frente ao Congresso na campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff. A entidade pretende deixar o pato gigante em vigília em Brasília até que termine a votação pela deposição da presidente.
O presidente da Fiesp afirma que o valor da campanha "Não vou pagar o pato" foi aprovado por unanimidade pela diretoria da entidade e que seu custo é variável. "[O valor muda] cada vez que se faz uma nova investida. Não há um custo fixo", disse.
Nas manifestações pró-impeachment do último dia 13, a Fiesp já havia espalhado patos gigantes pela avenida Paulista. Eles dividiram com os Pixulekos o papel de símbolo dos atos contra Dilma.