Folha de S. Paulo


Quatro executivos são presos durante a operação Vidas Secas da PF

Quatro executivos das empresas OAS, Coesa Engenharia, Barbosa Melo e Galvão Engenharia foram presos temporariamente nesta sexta-feira (11) durante operação Vidas Secas da Polícia Federal que investiga superfaturamento em obras da transposição do Rio São Francisco.

Os nomes dos executivos não foram divulgados pela PF. Eles são acusados de desviarem recursos públicos destinados aos lotes 11 e 12 do Eixo Leste da transposição. O trecho investigado tem 82 quilômetros (km) e fica entre os municípios sertanejos de Custódia (PE) e Monteiro (PB).

De acordo com investigadores, os empresários do consórcio responsável pelas obras utilizaram empresas de fachada para desviar pelo menos R$ 200 milhões. Os contratos investigados, até o momento, são de R$ 680 milhões.

Em entrevista coletiva na sede da PF em Pernambuco, os investigadores confirmaram que as empreiteiras utilizaram as empresas do doleiro Alberto Youssef e do operador Adir Assad para maquiar dos desvios. Dentre elas a MO Consultoria, de Youssef, e a Legend Engenheiros, que pertence a Assad.

A PF apontou também a participação da empresa JD Consultoria, pertencente ao ex-ministro José Dirceu (PT). Todos foram alvos da Operação Lava Jato e estão presos por participarem do esquema de corrupção na Petrobras.

"Foi constatado a transferência, em determinado momento, da Galvão Engenharia no valor de R$ 586 mil para a JD Consultoria", afirmou Marcelo Diniz, superintendente regional da PF em Pernambuco.

Para o delegado que coordena a operação batizada de Vidas Secas - Sinhá Vitória, Felipe Leal, não é possível assegurar a ilegalidade da transação. "No caso das empresas de Youssef e Adir Assad sabemos que são de fachada o que já leva ao indício de irregularidade. A JD é uma empresa que existe. Vamos averiguar se há legalidade nesse contrato", disse.

A primeira fase da operação começou ainda em 2014, a partir de relatórios técnicos do TCU e da CGU. Os laudos apontavam indícios de superfaturamento nas obras de terraplanagem nos lotes 11 e 12 da transposição.

Os investigadores identificaram que parte do dinheiro enviado pelo Ministério da Integração Nacional para uma conta única do consórcio e depois para as empresas de fachada e a JD. "Essa análise financeira foi possível graças ao compartilhamento de provas da Operação Lava Jato, devidamente autorizado pelo juiz Sérgio Mouro, que nos permitiu fazer o cruzamento de dados", afirmou Diniz.

Ao todo, além das 4 prisões, a PF cumpriu 24 mandados de busca e apreensão e 4 de condução coercitiva em Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia e Brasília.

Nas diligências, os investigadores apreenderam computadores, mídias e documentos técnicos como mapas e boletins de medição. A PF pretende reunir elementos que também comprovem irregularidades cometidas pela Ecoplan, responsável pela assessoria técnica da obra, e pelas empresas Concremat e Arcadis, que forma consórcio responsável pelo gerenciamento de todas as obras da transposição.

"Suspeitamos que houve omissão por parte dessas outras empresas. Primeiro atuamos nos núcleos econômicos e operacional", disse o delegado Felipe Leal, acrescentando que a partir de hoje a PF investigará a possível ligação de servidores públicos e políticos no esquema. "Queremos saber se houve facilitação e para quem foi esse dinheiro afinal".

Os envolvidos poderão responder pelos crimes de associação criminosa, fraude na execução de contratos e lavagem de dinheiro. A reportagem ainda não conseguiu contato com representantes das empresas.

Vidas Secas


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