Folha de S. Paulo


No RS, protestos evitam crise local; churrasco de coxinha é distribuído

Apesar da crise no Rio Grande do Sul, que afeta diversos setores por causa do bloqueio das contas do governo e salários dos servidores ameaçados, o protesto realizado em Porto Alegre não tocou no tema.

Cerca de 30 mil pessoas participaram da manifestação contra a presidente Dilma Rousseff (PT), segundo a Brigada Militar (a PM gaúcha). O número de participantes, segundo os organizadores, é mais do que o dobro: 70 mil.

"Estou aqui porque não concordo com os rumos que o Brasil está tomando. Quero uma mudança no governo", opina Guilherme Viana, 36, psicólogo.

Paula Sperb/Folhapress
Na Cidade Baixa, bairro boêmio de Porto Alegre, manifestantes pró-governo organizam um "coxinhaço"

"Nós queremos intervenção militar. É a única solução para a situação do país. Quando vier o comunismo, todos vão passar fome", diz Iara Willers, 64, aposentada.

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí –cidade da região metropolitana–, Edson Dornelles ocupou o microfone do carro de som da entidade. "O PT não é dono da consciência e da vontade do povo. O PT traiu o povo", disse.

Para o MBL (Movimento Brasil Livre), que organizou o protesto, a principal pauta da manifestação é o impeachment de Dilma. "Não é golpe, é a defesa do povo contra um governo tirano", diz Paula Cassol Lima, 28, uma das líderes do MBL.

"Ela homenageia mandioca, dobra uma meta oculta, não tem condições de ser presidente", afirma Paula.

No carro de som, o grupo fez cantorias pesadas, como "pé na bunda dela, o Brasil não é Venezuela".

Cerca de 400 policias militares trabalharam e nenhuma ocorrência de violência foi registrada. "Foi tudo tranquilo", disse o comandante do policiamento da capital, tenente-coronel Mário Ikeda. Segundo ele, o perfil dos manifestantes foi de "pessoas de mais idade e de comportamento tranquilo".

CHURRASCO DE COXINHA

No bairro mais boêmio de Porto Alegre, a Cidade Baixa, um "coxinhaço" ofereceu cerca de 50 quilos de coxas de galinha preparadas como churrasco, em 36 espetos. O protesto contra o impeachment teve música e exposição de arte. A ideia, segundo os organizadores, é fazer uma "resistência contra o discurso de ódio".

"A ideia é responder [ao movimento pró-impeachment] com muita alegria e diversidade", diz Clarananda Barreiras, 28, cientista política.

"É importante defender o nosso país e o resultado das urnas. Não compactuamos com o retrocesso", diz Taís Berg, 19, estudante.

"Marcamos posição contra a agenda retrógrada do grupo pró-impeachment, que combate os programas sociais, quer a redução da maioridade penal e tem pautas racistas e homofóbicas", diz o historiador Vicente Scneider, 25.

A organização estimou a participação de 500 pessoas, no início da noite. Cerca de 4.000 pessoas confirmaram presença no evento através de uma rede social.


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