Folha de S. Paulo


Considerada crime eleitoral, boca de urna acontece sem problemas em SP

Nos bairros periféricos de São Paulo, como na Brasilândia, zona norte de São Paulo, a antiga tradição da boca de urna, onde pessoas pagas por candidatos distribuem santinhos deles na porta dos locais de votação, ocorreu sem nenhum tipo de problema na manhã deste domingo (5). A legislação eleitoral diz que essa prática é ilegal.

Na rua Santa Cruz da Conceição, por exemplo, mais de dez cabos eleitorais estavam espalhados por algumas das esquinas do local. Bastava o eleitor se aproximar para ouvir a frase: "Já votou?". Ao responder que não, ocorria a abordagem: "vote neste, ele é o melhor candidato aqui da região".

A reportagem recebeu santinhos principalmente de deputados federais, mas ligados aos três principais candidatos à Presidência da República.

A distribuição dos panfletos não era apenas de mão em mão. Durante toda a madrugada e início da manhã deste domingo, muitos carros e motos passaram pelo locais de votação lançado material de campanha pelas janelas.

Em diversas regiões da Grande São Paulo, a "sujeira eleitoral" tomou conta das ruas e dos locais de votações.

A expressão foi usada por moradores e eleitores da cidade que criticaram os candidatos que optaram por espalhar os "santinhos", propaganda eleitoral com nome e número do candidatos, momentos antes da votação começar neste domingo.

Pelas regras eleitorais, a distribuição de material gráfico só poderia ocorrer até as 22 horas do dia que antecede a eleição. Mas foi possível notar que a distribuição ocorreu neste domingo, dia de votação, em vários bairros.

No Ipiranga e na região do ABC, cavaletes de candidatos de diversos partidos continuavam ocupando espaço de vias públicas, apesar de a legislação eleitoral determinar a retirada do material.

Caso da avenida Almirante Delamare, que liga a zona sul de SP à cidade de São Caetano. Estragados pela chuva ou pelo vento, pedaços dos cavaletes não recolhidos continuam espalhados ao longo da via, atrapalhando o trânsito.

"Quero ver se o candidato que pagou para colocar esse material vai pagar agora para retirá-lo", diz Paulo Rocha, morador de São Caetano.

A resolução 23.404/2014 do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que disciplina a propaganda nas eleições, permite a "colocação de cavaletes, bonecos, cartazes, mesas para distribuição de material de campanha e bandeiras ao longo das vias públicas, desde que móveis e que não dificultem o bom andamento do trânsito de pessoas e veículos".

Nas calçadas e nas ruas de regiões mais nobres da cidade, como no bairro Alto de Pinheiros (zona oeste), a quantidade de santinhos era mínima.

No centro da cidade, alguns eleitores chegaram a improvisar vassouras com galhos caídos de árvores para ajudar a limpar a entrada de escolas públicas onde ocorria a votação para evitar que os pedestres escorregassem ou sofressem acidentes.

Na zona norte, em uma pequena travessa da rua José Maria Coelho, Cida Garcia e mais seis pessoas de sua família resolveram fazer um mutirão para tirar toda a sujeira da rua.

"É um absurdo", diz ela, que, rapidamente, constatou ser um trabalho de "chinês". Assim que a frente da casa ficava limpa, e os netos dela, na verdade, se divertiam com a bagunça, vinha uma lufada de vento e trazia mais papéis para a calçada que acabara de ficar limpa.


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