Folha de S. Paulo


Maluf diz que ou Justiça barra todo mundo ou libera todos

Paulo Maluf, como o brasileiro da antiga propaganda de Lula, não desiste nunca. Aos 83 anos, na sua 23ª eleição, com a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa, o deputado federal do PP repete o bordão de que "confia na Justiça", o que quer dizer em malufês que ele será eleito e tomará posse.

"Ou barra todo mundo ou libera todo mundo", repetia ao votar neste domingo (5) pela manhã numa faculdade no Jardim Europa, na zona sul de São Paulo.

Ele disse ter votado em Dilma Roussef (PT) para presidente, em si mesmo para deputado federal, em Salim Curiati (PP-SP) para estadual e Paulo Skaf (PMDB) para governador "por decisão do partido", como frisa. Mais tarde contou que votara em Gilberto Kassab (PSD) para senador.

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Paulo Maluf vota em colégio do Jardim Paulista, zona oeste de São Paulo
Paulo Maluf vota em colégio do Jardim Paulista, zona oeste de São Paulo

Maluf manteve a sua candidatura porque, após ser vetado pela Lei da Ficha Limpa, ingressou com recurso no Tribunal Superior Eleitoral. Enquanto o recurso não for julgado, ele continua com a campanha.

Maluf diz indiretamente que se sente perseguido: "Todas as candidaturas que foram barradas pelo TRE [Tribunal Regional Eleitoral] de São Paulo foram confirmados em Brasília. Eles vão ter de pacificar: ou barra todo mundo ou também registra a minha".

Ele cita como exemplo o caso do deputado federal Newton Lima (PT), ex-prefeito de São Carlos, condenado por improbidade com dano aos cofres públicos, mas sem evidências de enriquecimento ilícito. "O TSE liberou vários casos iguais ao meu. Tenho certeza de que minha candidatura será registrada".

Maluf foi barrado pela Lei da Ficha Limpa por ter sido condenado no ano passado pelo Tribunal de Justiça por superfaturamento na construção do túnel Ayrton Senna, na época em que foi prefeito de São Paulo pela segunda vez, entre 1993 e 1996. O tribunal mandou ele devolver R$ 42,3 milhões aos cofres públicos e proibiu-o de disputar eleições por cinco anos.

A grande dúvida judicial é se houve dolo (intenção) no superfaturamento: Maluf agiu de má fé no sobrepreço do túnel ou ele não teve participação direta no caso? Até agora as decisões da Justiça eleitoral apontam que houve dolo por parte de Maluf, o que ele contesta com veemência.

Maluf diz nem saber direito se esta será a sua última eleição. Conta uma piada para indicar que ainda não decidiu o que fazer se o TSE recusar seu recurso e confirmar que é ficha suja.

"Quando um papa fez cem anos, todos os cardeais foram cumprimenta-lo e um deles disse: 'Deus queira que o senhor viva 120 anos'".

O papa, segundo Maluf, respondeu: "Por que você quer limitar a generosidade divina?"


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