Folha de S. Paulo


'Percol estava no melhor momento da vida dele', diz viúva de jornalista

A jornalista Cecília Ramos conversou com o marido, o também jornalista Carlos Percol, 36, assessor de imprensa de Eduardo Campos, poucas horas antes de os dois e outras cinco pessoas morrerem em um acidente aéreo em Santos (SP) na manhã de quarta-feira (13).

Segundo Cecília, o velório de Percol será junto com o dos demais pernambucanos da equipe no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco. Uma missa campal será realizada pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido.

Cecília trabalhava no Recife, mas se mudou para São Paulo há cerca de dez dias para participar da campanha e tentar ficar mais perto do marido. Os dois se encontrariam no dia do acidente.

"Eu falei na madrugada com Percol, depois da participação de Eduardo Campos no 'Jornal Nacional'. Os dois estavam muito felizes. Uma coisa que aprendi com Percol foi que não tinha tempo ruim. Tudo se transformava em coisa boa", disse Cecília, casada com Percol há quatro meses.

"Percol estava no melhor momento da vida dele. Ele teve grandes momentos. Deus foi muito generoso com ele", disse a jornalista muito emocionada.

O amigo Carlos Eduardo Santos também falou sobre o momento vivido pelo jornalista: "O Percol estava em um momento muito especial, tanto pessoalmente como profissionalmente. Ele se casou em abril e, no mês seguinte, foi convidado pelo Eduardo para a campanha presidencial. Há pouco tempo, me disse que estava muito feliz, conhecendo todo o Brasil", afirmou.

Os dois se conheciam havia 20 anos. Estudaram juntos no colégio e no curso de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco. Até maio, eram colegas na Prefeitura do Recife, governada por um aliado de Campos, Geraldo Julio (PSB).

Antes de se tornar assessora de Eduardo Campos, Cecília Ramos cobriu o governo dele em Pernambuco e chegou a viajar com o ex-governador.

"Pude viajar com Eduardo Campos umas duas, três vezes nesse avião. Incansável, sorriso sempre no rosto, dedicação total à família, um carinho incrível com Percol e vice-versa. Era uma dupla", afirmou.

"Foi porque tinha que ser. Não adianta procurar explicação. Sei que onde ele estiver está muito feliz. Ele estava felicíssimo. Foi dos dias de campanha mais felizes da vida dele. Ele estava fazendo o que gostava", disse a jornalista.

Nesse mês, Percol deixou o cargo de secretário de imprensa da Prefeitura para fazer parte da campanha de Campos. Era a terceira vez que trabalhava para o socialista.
A primeira foi na primeira eleição vitoriosa para governador de Pernambuco, em 2006. Nos seis anos seguintes, Percol integrou a assessoria de imprensa do então governador Campos.

Ele participou também das campanhas vitoriosas de reeleição de Campos (2010) e de Geraldo Julio para a Prefeitura do Recife, em 2012.

Santos o descreve como um amigo legal e de ótimo humor. "Em 20 anos, não me lembro de vê-lo me mau humor, tinha um sorriso largo."

O amigo explica o apelido que praticamente virou o seu nome: "Na época do colégio, ele usava uma calça jeans da marca Perco, que tinha uma etiqueta enorme atrás com o nome Percol."

Fanático pelo Sport, Percol era filho do ponta-direita Carlinhos Ramos Leal, que atuou no rubro-negro pernambucano na década de 1950.

Em 2011, escreveu um texto em homenagem ao pai, morto em 1995, atribuindo a ele a invenção do drible conhecido como carretilha, em partida contra o Náutico. "Apertado pela marcação do lateral esquerdo Jaminho bem próximo à bandeirinha do escanteio, Carlinhos prendeu a bola entre os pés jogando-a por cima da própria cabeça e do excelente jogador alvirrubro".

A diretoria do Sport anunciou que batizará o novo centro de imprensa, em construção, com o nome de Percol. No domingo, a equipe também lhe renderá uma homenagem no jogo contra o Atlético-PR.

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ACIDENTE

O candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Henrique Accioly Campos, 49, morreu nesta quarta (13) em acidente aéreo em Santos, litoral paulista, onde cumpriria agenda de campanha. O jato Cessna 560 XL, prefixo PR-AFA, partira do Rio e caiu em área residencial.

Dois pilotos e quatro assessores também morreram, e sete pessoas em solo ficaram feridas. Os restos mortais removidos do local do acidente chegaram na noite desta quarta-feira (13) na unidade do IML (Instituto Médico Legal) na rua Teodoro Sampaio, no bairro Pinheiros, em São Paulo. A Aeronáutica investiga a queda.

Governador de Pernambuco por dois mandatos, ministro na gestão Lula, presidente do PSB e ex-deputado federal, Campos estava em terceiro lugar na corrida ao Planalto, com 8% no Datafolha. Conciliador, era considerado um expoente da nova geração da política.

O PSB tem dez dias para anunciar eventual substituição do candidato. Adversários na disputa, PT e PSDB já se preparam para enfrentar Marina Silva, a vice de Campos. Candidata à reeleição, a presidente Dilma Rousseff (PT) decretou luto oficial de três dias e afirmou que o acidente "tirou a vida de um jovem político promissor". Também presidenciável, Aécio Neves (PSDB) disse ter perdido um amigo.

Marina declarou que guardará dele a imagem de "alegria" e "sonhos". Campos morreu num 13 de agosto, mesmo dia da morte do avô, o também ex-governador Miguel Arraes (1916-2005). Campos deixa mulher, Renata Campos, e cinco filhos, o mais novo nascido em janeiro. "Não estava no script", disse Renata.


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