Folha de S. Paulo


Foco de investigação da PF, deputado Luiz Argôlo buscava projeção rápida

Deputado federal em primeiro mandato, João Luiz Correia Argôlo era um rosto anônimo nos corredores da Câmara até o mês passado.

Com pouca atuação no plenário e nas comissões, mas ambicioso na política, o parlamentar de 33 anos deixou recentemente o PP pelo recém-criado Solidariedade em busca de destaque.

Ele reclamava na antiga legenda dos caciques baianos Mário Negromonte e João Leão, obstáculos para crescer no seu reduto eleitoral. Decidiu, então, migrar.

Mas antes de conseguir decolar na nova casa, esbarrou, relatam colegas do Congresso, na própria ganância. "Ele queria crescer rapidamente, viu que Youssef tinha relação com algumas pessoas do PP e deve ter achado que era um cara que poderia ajudá-lo a subir", avalia um colega da ex-legenda, reservadamente.

Youssef é Alberto Youssef, o doleiro que foi preso pela Operação Lava Jato em março acusado de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões.

Durante as investigações, a Polícia Federal interceptou 1.411 mensagens trocadas entre o doleiro e um usuário identificado como ''L.A'.

A situação de Argôlo piorou com a divulgação de conversas mostrando uma relação de intimidade, onde falavam de família, combinavam encontros e pedidos de depósitos financeiros.

Segundo a Polícia Federal, os indícios apontam que Argôlo era "um cliente dos serviços prestados por Youssef, por vezes repassando dinheiro de origem aparentemente ilícita, intermediando contatos em empresas, recebendo pagamentos, inclusive tendo suas atividades operacionais financiadas pelo doleiro".

A colegas, Argôlo diz que ''se houver julgamento, e não linchamento", ele conseguirá provar que não há nada contra ele.

Aos amigos, o deputado nega irregularidades, explica que tinha negócios com Youssef e diz que vendeu um terreno ao doleiro para ajudar a pagar dívidas.

'BOM MENINO'

Para reforçar sua defesa, levou seu pai, Manoelito Argôlo, a um encontro com Paulinho da Força (SP), presidente do Solidariedade, que reiterou que Argôlo era ''um bom menino''.

O segundo nome de Argôlo, Luiz, é uma homenagem ao rei do Baião, Luiz Gonzaga, que era amigo de Manoelito. O chefe de gabinete de Argôlo, Vanilton Bezerra, diz que o músico era padrinho de batismo de Argôlo e frequentava a fazenda do pai do deputado, em Entre Rios (BA).

Gustavo Lima -16.mai.14/Agência Senado
O deputado federal Luiz Argôlo (SDD-BA) durante pronunciamento na Câmara
O deputado federal Luiz Argôlo (SDD-BA) durante pronunciamento na Câmara

"Ele compôs várias músicas para o amigo. Você já ouviu aquela Manoelito, cidadão? É para ele."

Bezerra define o chefe como um jovem agitado, de bom coração e ''festeiro'' por causa do pai, que sempre gostou muito de celebrações.

Além disso, garante que ele é querido entre artistas da música baiana, como Ivete Sangalo e Bell Marques, ex-Chiclete com Banana.

Na política, Argôlo repete a deputados que é amigo de Jaques Wagner (PT), governador da Bahia.

EXPLICAÇÃO

A Folha fez vários pedidos de entrevista com Argôlo e seu pai, mas não obteve retorno da assessoria.

Procurado, Wagner disse: "Vamos aguardar o julgamento para ver se tem culpa ou não. Até que se prove o contrário, ele é considerado inocente. Ele é da minha base, me procurou e eu o atendi. Ele sustenta ter explicação para tudo".


Endereço da página: