Folha de S. Paulo


Dilma rebate críticas sobre suposta falta de diálogo com Congresso

Em palestra a empresários do varejo, ontem na capital paulista, a presidente Dilma Rousseff rebateu críticas de que não é afeita ao diálogo nas negociações com o Congresso Nacional.

"Falam muito que não gosto de negociar, falam que não gosto de conversar. Mas não é essa a questão. É que tem um certo tipo de padrão de política que você não pode aceitar. Se você aceitar, não vale a pena".

Dilma disse ser muito difícil governar sem a realização de uma reforma política e reconheceu a dificuldade do projeto ser aprovado pelo Congresso Nacional.

"É impossível fazer qualquer coisa no Brasil hoje de forma rápida sem reforma política. Não tem reforma política sem que haja participação do povo. Não há força política que faça isso, porque ninguém aprova a regulação ou mudança de si mesmo".

No momento em que sua administração é alvo de ataques, a presidente afirmou que não tem "medo de ser criticada". "Pode criticar, não tenho medo de ser criticada por A, B, C ou D".

A presidente se reuniu por três horas com cerca de cem empresários, em encontro do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo). Sem citar nomes, rebateu promessa de seu adversário do PSB, Eduardo Campos, sobre a redução do centro da meta de inflação para 3% até 2019.

"Se você falar que a inflação vai para 3%, saibam os senhores, nós vamos precisar cortar quase 50% dos programas sociais e teremos problemas para sustentar o Minha Casa, Minha Casa, os planos safra da agricultura familiar e todos os programas feitos com juros subsidiados".

A petista respondeu, também de maneira indireta, à declaração do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, coordenador econômico da campanha de Aécio Neves (PSDB). Em entrevista ao jornal "Valor Econômico", Fraga criticou a oferta "exagerada" pelo BNDES de crédito subsidiado a empresas.

"Quem inventar que não se pode subsidiar estará levando o país a uma encruzilhada de recessão insuportável. Por isso, é importante controlar a inflação e o orçamento fiscal", explicou Dilma.

Em deferência aos empresários, a presidente ressaltou a importância do crescimento do consumo e negou que o aporte do governo federal em políticas de renda que estimulam a compra seja incompatível com o investimento em infraestrutura.

"Não é porque o governo gastou mais em consumo, em garantir políticas de renda, que não se investiu em infraestrutura. É mentira isso".

Um dos únicos momentos em que a presidente foi aplaudida no encontro foi quando disse ser contra a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, pleito defendido pelas centrais sindicais. Segundo ela, em um cenário de quase pleno emprego, "não é compreensível" diminuir o tempo de trabalho quando há dificuldade em se encontrar nova mão de obra.

"Não sou a favor das 40 horas porque essa é uma questão entre trabalhadores e empresários", disse. "Não considero que isso seja pauta agora nesse momento. Acho uma maluquice a gente colocar na pauta", acrescentou.

Segundo o relato de participantes do encontro, a presidente se mostrou favorável à manutenção da desoneração da folha de pagamento de setores que já foram contemplados pelo governo federal. No entanto, indicou que não há espaço na atual conjuntura para ampliar o benefício para novos setores.


Endereço da página: