Folha de S. Paulo


Exumação de Jango atrai ao cemitério de São Borja (RS) os moradores mais antigos

O processo de exumação do presidente João Goulart, o Jango, atrai à frente do cemitério de São Borja (a 581 km de Porto Alegre) curiosos e amigos da família na manhã desta quarta-feira (13).

Muitos são idosos que dizem se lembrar pessoalmente do presidente, deposto pelo golpe militar em 1964. Na cidade, ainda há um clima de desconfiança com o processo por temor de que os restos mortais não voltem ao município, conhecido como "terra dos presidentes" --além de Jango, está enterrado em São Borja o presidente Getúlio Vargas (1882-1954).

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O aposentado Elmar Pereira, 66, passou a manhã em frente ao cemitério para "participar do momento histórico". "Pelo menos estão tentando resgatar a história dele. Ele conviveu muito com meu pai, eram do mesmo partido. Não deixa de ser uma emoção", diz o aposentado.

Segundo Pereira, se dependesse dos moradores da cidade, a exumação não teria acontecido, devido ao receio de que o corpo fique em Brasília. O governo federal assegura, porém, que os restos mortais retornarão ao município gaúcho em 6 de dezembro, quando a morte de Jango completa 37 anos.

POLÍTICA

Há moradores que também criticam uma suposta exploração política do procedimento. Pela manhã, ministros e autoridades locais estiveram no cemitério acompanhando os trabalhos.

O aposentado Luthero Fagundes, 88, que conta ter trabalhado com Jango, afirma que a exumação está sendo feita "um pouco tarde". Para ele, o presidente sabia estar "jurado de morte". "Tem uma conotação política [a exumação agora]. Tira um pouco do caráter do que estão fazendo. Não pode fazer um palanque político dessa situação", diz.

Anastácio Fonseca, 90, que também esteve em frente ao cemitério pela manhã, afirma que a exumação é "justa" e que existe curiosidade sobre as circunstâncias da morte do presidente. Dentro do cemitério, uma tenda foi montada para abrigar familiares do presidente. Jornalistas e população aguardam informações do lado de fora.


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