Folha de S. Paulo


Lula defende parcerias do governo com empresários para Humala

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, nesta quarta-feira (05), a parceria de governos com empresariado e investimentos brasileiros no Peru. Diante do presidente Ollanta Humala - já apelidado de "Chavéz peruano" por seu alinhamento político - e de empresários dos dois países, Lula "exaltou", em suas próprias palavras, o papel da iniciativa privada. No Peru, há resistência à presença, cada vez mais evidente, de grandes empresas brasileiras no país.

"O seu presidente (Humala) foi muito amigo do Chávez. Eu também. Mas dizia: 'pára, Chavez, de falar em Simon Bolívar.' Não tem mais integração com espada na mão. Mas com banco de desenvolvimento, financiamento e taxa de interesse", afirmou, repetindo discurso feito há 20 dias numa reunião em Buenos Aires.

À frente de uma delegação de empresários brasileiros que incluiu executivos das empreiteiras OAS, Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez, Lula disse que "queria ressaltar o papel dos empresários". Dirigindo-se a Humala, afirmou que o mandato, especialmente sem reeleição, é perecível "como manteiga". "E aí precisamos aprender a contar com essa gente", recomendou Lula, enquanto apontava para empresários da plateia.

"Precisamos depositar nos nossos empresários o papel de serem cobradores das coisas que assinamos".

Segundo Lula, "não se deve ter vergonha" se há interesse financeiro da iniciativa privada, porque "todo mundo que é empresário precisa ganhar dinheiro". ""No fundo quem dá praticidade aos memorandos que assinamos e muitas vezes não lemos...é essa gente que está aqui porque eles conseguem transformar nossos interesses em coisas praticas. [...] Eles devem ser, na prática, os executores do que nós assinamos", justificou.

Lula desembarcou na noite de terça em Lima liderando uma delegação de empresários brasileiros, muitos deles acompanham o petista numa maratona pela Colômbia e o Equador.

Lula viajou ao Peru a convite do grupo Brasil, composto por 45 empresas brasileiras com investimentos no país, e da Câmara Binacional de Comércio Peru Brasil.

A expectativa dos anfitriões é que Lula atue como uma ponte entre os investidores brasileiros e o governo de Ollanta Humala num momento delicado entre os dois países. Eleito com apoio do PT, Humala abortou três negociações entre Peru e o investidores brasileiros. A mais emblemática foi a decisão do governo peruano de rejeitar a compra de aviōes supertucanos da Embraer, optando por aeronaves sul-coreanas.

O fracasso da operação com a Embraer foi apontado como motivo pelo qual Dilma adiou sua viagem ao Peru. A previsão era de que visitasse Humala em maio de 2012. Mas, desde eleita, Dilma não cumpriu uma única agenda bilateral no Peru. Ontem, empresários brasileiros cobravam, em suas conversas, uma viagem da presidente ao Peru para impulsionar acordos comerciais.

No Peru, a intenção era que Lula sensibilizasse Humala para a importância dos investimentos brasileiros. Num discurso 27 minutos mais enxuto do que o de lula, Humala frisou, no entanto, a solidez da aliança de seu país com o Pacifico. E, numa clara menção ao jogado Paolo Guerrero, que horas depois posava para fotos ao lado de Lula, disse que o Peru precisa diversificar e "não ser apenas exportador de produtos agrícolas e jogadores de futebol".


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