Folha de S. Paulo


Em defesa, advogado diz que tese de duplo homicídio é 'ficção'

O advogado José Fragoso, defensor dos quatro ex-seguranças de Paulo César Farias, tesoureiro da campanha de Fernando Collor em 1989, defendeu nesta sexta-feira (10) a absolvição dos réus e afirmou que a tese de duplo homicídio é "obra de ficção".

Os PMs Adeildo dos Santos, Reinaldo de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva são acusados de participação nas mortes ou, no mínimo, de omissão ao não evitá-las, já que eram seguranças de PC.

O advogado disse que o laudo que aponta duplo homicídio nas mortes de PC e sua namorada, Suzana Marcolino, teve motivação pessoal. Ele chegou a insinuar que Suzana era prostituta para pedir a absolvição do quarteto.

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"Lutei e luto com todas as forças da minha alma para mostrar a verdade", disse ele, após afirmar que a sociedade sofre a tentação de transformar "um fato da vida real em uma obra de ficção".

Fragoso, que falou por duas horas e 27 minutos, ficou exaltado na parte final ao tentar convencer os sete jurados de que os réus não foram omissos nem permitiram que o casal acabasse assassinado no dia 23 de junho de 1996, como acusa a Promotoria.

A tese adotada pela defesa leva em conta o laudo pericial da equipe de Badan Palhares, que aponta que Suzana matou PC e depois se suicidou.

Um outro estudo, feito em seguida pelo grupo de Daniel Muñoz, da USP, indicou a hipótese de duplo homicídio.

Durante a sua fala, Fragoso passou a atacar esta perícia, a qual considerou "raivosa" e com razão pessoal.

"Quando a pessoa quer fazer a maldade, é uma coisa fora do sério", disse. "O dr. Muñoz tinha divergência com Badan relativa a um caso na Paraíba e porque também trabalhou com ele nas análises de reconhecimento facial do médico nazista Joseph Mengele, mas a fama ficou apenas com o Badan".

E completou, sobre o novo laudo: "Houve falta de honestidade científica, sim".

Fragoso ainda disse que a "grande mídia nacional nunca se conformou" com a tese do suicídio de Suzana por se tratar de um personagem como PC, que foi o operador do esquema de corrupção que culminou no impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992.

Tesoureiro de campanha do ex-presidente em 1989, PC Farias foi o articulador do esquema de corrupção no governo denunciado à época. Segundo a Promotoria, a morte de PC foi investigada como "queima de arquivo", pois ele era acusado de sonegação de impostos e enriquecimento ilícito e poderia revelar outros envolvidos.

O advogado também afirmou que Suzana foi apresentada a PC por uma cafetina. "Mas ele não a tratava como se fosse uma prostituta, não. Tratava efetivamente como namorada, apresentou até à família. Mas as circunstâncias foram essas".

Para Fragoso, o objetivo "das pessoas" era a destruição a reputação de Palhares e atingir o ex-deputado Augusto Farias, irmão de PC --que pagou a defesa dos réus.

Augusto Farias chegou a ser indiciado por suspeita de ser o mandante do crime, mas a investigação terminou arquivada em 2002.

"Condenar esses quatro seria acreditar num pacto coletivo de traição [os seguranças teriam traído PC], em conluio com a polícia de Alagoas, os peritos alagoanos e também os peritos de Campinas [do grupo de Palhares]", afirmou Fragoso.

ANDAMENTO

Antes da fala do advogado, o promotor Marcos Mousinho tentou na manhã convencer os jurados de que os ex-seguranças tiveram participação nas mortes, em 1996.

Segundo ele, os policiais militares Adeildo dos Santos, Reinaldo de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva deveriam ser condenados por "homicídio por omissão".

Após a pausa para o almoço, o Ministério Público terá mais duas horas para fazer a réplica. Depois, a defesa também terá direito a mais duas horas para a tréplica.

Após os debates, os jurados são levados a uma sala para responder a perguntas elaboradas pelo juiz. Com base nas respostas, o juiz define uma pena, caso os ex-seguranças seja considerados culpados.

Editoria de Arte/Folhapress

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