Folha de S. Paulo


Líder do MST é encontrado morto a tiros em estrada de Campos (RJ)

O trabalhador rural e militante do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) Cícero Guedes dos Santos, 49, foi encontrado morto a tiros na manhã deste sábado (26) pela Polícia Civil, em uma estrada vicinal, perpendicular à BR 356, que liga Campos dos Goytacazes a São João da Barra, norte fluminense. O agricultor era líder da ocupação da usina Cambahyba.

A polícia informou que já realizou uma perícia no local, mas ainda não possui suspeitos pelo crime. De acordo com o MST, Cícero foi baleado ontem quando saía do assentamento de bicicleta.

Nascido em Alagoas, ele foi cortador de cana e era um dos coordenadores da ocupação do MST na usina Cambahyba, que ocorreu em novembro do ano passado. O movimento informou que Cícero Guedes vivia desde 2002 no Sítio Brava Gente, no norte do Rio de Janeiro, no assentamento Zumbi dos Palmares, mas continuou na luta pela reforma agrária.

Parte da área ocupada é um complexo de sete fazendas que totaliza 3.500 hectares e pertence a herdeiros do já falecido Hely Ribeiro Gomes, ex-vice governador biônico do Rio de Janeiro.

Em 14 de janeiro, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) anunciou em seu site a criação de um assentamento na área da usina. Para o MST, a morte de Cícero "seria resultado da violência do latifúndio, da impunidade das mortes dos sem-terra e da lentidão do Incra para assentar as famílias e fazer a reforma agrária". A organização exige a investigação dos fatos.

O deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio, Marcelo Freixo, afirmou que sua equipe já está na estrada para acompanhar o caso.

Em comunicado em sua página, ele informou que, em 2009, Campos foi a cidade com maior número de casos de escravidão encontrados no Brasil.

"Cícero participou de uma reunião ontem à noite na usina Cambahyba e foi assassinado quando retornava para casa", escreveu o deputado.

CAMBAHYBA

As fazendas da Usina Cambahyba ficaram conhecidas no ano passado quando o ex-delegado do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), Cláudio Guerra, afirmou no livro "Memórias da uma guerra suja" que corpos de dez militantes políticos contra a ditadura foram incinerados lá.


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