Folha de S. Paulo


editorial

Estado Islâmico em crise

A facção radical Estado Islâmico está se enfraquecendo. Estima-se que, desde 2015, tenha perdido cerca de 30% de seus combatentes e 25% do território que controla na Síria e no Iraque, hoje uma área equivalente à de Santa Catarina.

Nas últimas semanas, a milícia terrorista conheceu derrotas em duas frentes sírias: Palmira, uma cidade histórica, e Tal Abyad, de importância acentuada pela proximidade com a Turquia.

Talvez esses constituam os resultados mais visíveis da ofensiva internacional contra os extremistas, mas não são os únicos. A ação tem gerado frutos ainda mais decisivos, embora menos perceptíveis.

A própria estrutura logística da facção sofreu sério baque, como contou Ahmad Derwish, 29, combatente do Estado Islâmico preso há um mês na Síria.

"Os bombardeios da coalizão [liderada pelos Estados Unidos] enfraqueceram muito o Estado Islâmico. Não podemos mais nos movimentar, e nossos campos de petróleo e refinarias foram atingidos", afirmou em entrevista exclusiva a esta Folha.

Antes de ser preso, Derwish –que concordou em ser fotografado e filmado pela reportagem– era um emir (comandante) na região de Shaddadi (Síria), cidade estratégica para a facção radical.

Nascido na Síria, trabalhava como mecânico na Arábia Saudita quando eclodiu a revolta síria contra o ditador Bashar al-Assad, no início de 2011. Pouco tempo depois, juntou-se ao EI. Como tantos, foi atraído pelas promessas de um retorno a um tempo supostamente puro do islã, anterior à corrupção dessa fé por valores modernos.

Levando ao extremo uma lógica fanática, Derwish procura justificar as indefensáveis 32 mortes nos recentes atentados em Bruxelas. "Sempre é legítimo matar quem não segue a sharia [lei islâmica]", sustenta o combatente, que diz não se arrepender das cerca de 20 pessoas que ele próprio assassinou em nome de sua religião.

Catalisador da expansão do EI, o fundamentalismo, de acordo com o prisioneiro, já parece incapaz de manter o apelo irracional do grupo –para o que decerto contribuem os reveses militares e a queda no preço do petróleo. Os soldos, por exemplo, teriam caído de US$ 150 para US$ 50.

Segundo Derwish, o EI responde aos ataques da coalizão internacional com atentados na Europa. Trata-se de puro desespero, que as autoridades devem enfrentar com reforço em suas redes de inteligência e segurança. O combate à facção extremista está funcionando –e precisa continuar, sem tréguas.

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