Folha de S. Paulo


editorial

Suspeitas alimentares

Tem exalado um cheiro ruim o serviço de alimentação dos presos na Grande São Paulo. Investigações em curso apontam indícios de superfaturamento, pagamento indevido, fornecimento de comida de má qualidade e em quantidade menor que a estipulada em contrato.

São vários os casos de irregularidades em uma rubrica que consome mais de R$ 200 milhões ao ano.

No CDP (Centro de Detenção Provisória) de Itapecerica da Serra, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) descobriu que as populares quentinhas fornecidas aos presidiários continham cerca de metade da carne esperada.

Já o TCE (Tribunal de Contas do Estado) constatou abusos similares em outras unidades prisionais, como o envio de marmitas com pregos e cabeças de frango.

O tribunal também identificou que o número de quentinhas pagas por refeição excedia a população carcerária da região metropolitana (aproximadamente 50 mil).

Em outra frente, o Ministério Público investiga possível superfaturamento na entrega de alimentos ao CDP Belém 1. O contrato envolve empresa acusada de fraude num escândalo sobre merenda escolar.

As irregularidades ocorreram no período em que a coordenadoria dos presídios da Grande São Paulo era ocupada por Hugo Berni Neto, cujas atribuições incluíam fechar os contratos alimentícios.

Berni Neto deixou o cargo no final de setembro de 2015 após esta Folha revelar um aumento de R$ 7 milhões em seu patrimônio num período de dois anos.

A SAP apura os contratos de alimentação nas 28 prisões da região metropolitana, e espera-se real empenho do governo paulista no esclarecimento das denúncias.

Além disso, a administração estadual deveria dedicar maior atenção à diferença de custos entre as unidades. Eles vão de R$ 15,26 por dia/preso aonde as marmitas chegam prontas a R$ 8,07 quando os próprios presidiários cozinham.

Por causa dessa economia, o governo estadual adotou o modelo de prisões com cozinha nos últimos projetos –o que também ajuda na ressocialização dos presos, que podem aprender uma profissão. São razões suficientes para dotar dessas instalação as demais unidades hoje em funcionamento.

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