Folha de S. Paulo


Editorial: De promessas e amizades

A um ano e meio de completar seu mandato como prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) admite que não cumprirá a meta de construir 243 creches até 2016.

O número de novas unidades, segundo a prefeitura, chegará a 147, já consideradas as 47 que foram entregues ou estão em fase de conclusão. Representarão acréscimo de cerca de 20 mil vagas às mais de 236 mil existentes.

Muito pouco para resolver o crônico problema da fila das creches na capital paulista. No último levantamento, realizado em março, 106 mil crianças de até três anos aguardavam um lugar.

Por causa disso, a Fundação Abrinq decidiu não conceder a Haddad o selo de "Prefeito Amigo da Criança", entregue a gestores que honram compromissos previamente acordados com a entidade.

O ex-ministro da Educação não gostou do puxão de orelha. Em resposta, questionou a legitimidade da Abrinq, alegando que "nenhum dos seus principais filiados se dispôs a doar uma única creche".

De acordo com o prefeito, a culpa pelo descumprimento das ações não é sua, mas dos problemas orçamentários enfrentados por sua administração. Haddad lista, por exemplo, o bloqueio judicial ao reajuste do IPTU, que privou a municipalidade de mais de R$ 1 bilhão, e o não recebimento de recursos federais e estaduais com os quais ele contava.

Para uma cidade há muito estrangulada por dívidas antigas com a União –que o petista deixará renegociadas em melhores termos para o município–, restrições adicionais à capacidade de investimento sem dúvida provocam impacto negativo de monta.

Todo político, porém, está sujeito a adversidades desse tipo, e saber enfrentá-las é característica dos bons gestores. De resto, promessas mais realistas evitariam a frustração de eleitores –sobretudo quando se trata de tema tão importante para a estrutura das famílias, em especial as de baixa renda.

Além de serem canais de socialização e estímulo para as crianças, creches dão a pais e mães oportunidade de trabalhar fora de casa.

Em São Paulo, os bairros com maior deficit de vagas se localizam na periferia. O fenômeno, como mostrou reportagem desta Folha, obriga mães dessas regiões a gastar até metade de seus salários com babás e cuidadoras –um auxílio em geral não especializado, que aumenta as chances de acidentes domésticos.

Fruto da incúria de seguidas gestões municipais, a falta de creches certamente será objeto de inúmeras promessas na próxima campanha.


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