Folha de S. Paulo


Editorial: Bênção para a Palestina

O papa Francisco tem dado seguidas demonstrações de que pretende marcar seu pontificado por vistosos gestos de cunho político. No mais recente deles, aproveitou um tratado a respeito das atividades da Igreja Católica na Cisjordânia para reconhecer formalmente o Estado da Palestina.

Embora não se imagine que esse fato venha a induzir mudanças de atitude por parte de Israel, é inegável que a decisão do Vaticano tem grande impacto simbólico no Oriente Médio. Constitui, nesse sentido, importante auxílio à estratégia palestina de angariar apoio internacional para a sua causa.

Hoje são 135 os países que reconhecem o Estado palestino, lista que inclui o Brasil. A última nação a fazê-lo foi a Suécia, em outubro. No ano passado, os Parlamentos de Reino Unido, Irlanda, França e Espanha aprovaram moções pedindo a seus governos que adotassem a mesma resolução.

A Palestina também vem obtendo amparo de organizações internacionais. Em 2012, a Assembleia-Geral da ONU a elevou ao status de Estado observador não membro.

Com esse crescente movimento de legitimação, os palestinos pretendem não somente deixar Israel isolado em sua posição beligerante mas também pressionar Jerusalém em direção a uma solução pacífica para o conflito.

O governo israelense, contudo, não dá mostras de que pretende ceder. Como era de esperar, manifestou desapontamento em relação à iniciativa do Vaticano e afirmou que a atitude não promove o processo de paz nem o retorno palestino à mesa de negociações.

Nessa disputa, aliás, a falta de entendimento tem sido a marca mais visível. A última busca por um acordo fracassou há pouco mais de um ano. Seguiram-se confrontos entre a facção Hamas e Israel, que deixaram mais de 2.000 mortos.

Como se isso não bastasse, com a posse do novo governo israelense, formado por uma coalizão nacionalista e conservadora, as chances de uma saída negociada tornaram-se praticamente nulas.

A despeito do contexto de paralisia e pouca perspectiva para o entendimento, o papa parece disposto a dar sua contribuição. Diante do papel desempenhado por Francisco na reaproximação entre Cuba e Estados Unidos, talvez não seja ocioso esperar que sua participação tenha novamente um valor mais que simbólico.


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