Folha de S. Paulo


Mauricio Puls: Menos é mais?

Por que o PSDB governa São Paulo há 20 anos? À primeira vista, devido à identificação dos eleitores com o partido. Só que a conta não fecha: apenas 9% dos paulistas preferem os tucanos, segundo o Datafolha, e Geraldo Alckmin foi reeleito com 57% dos votos válidos.

A legenda tem adeptos fiéis, mas são poucos. Os demais votantes escolhem o PSDB menos por afinidade e mais porque rejeitam as demais siglas. Qual é o motivo dessa aversão?

No ano passado, os tucanos tinham, a rigor, dois adversários: o bloco PMDB-PP e o PT.

O PMDB de Orestes Quércia governou o Estado de 1987 a 1994, enquanto o PP de Paulo Maluf ganhou as eleições na capital em 1992 e 1996. Quércia e Maluf fizeram fama como "tocadores de obras" e elegeram seus sucessores. Porém deixaram dívidas imensas, que paralisaram as gestões seguintes. O impacto foi sentido pela população: o fiasco do quercismo abriu caminho para a vitória do PSDB, em 1994, e o fiasco do malufismo o consolidou no poder, em 1998. PMDB e PP jamais se recuperaram.

O segundo rival de Alckmin era o PT. Na Presidência há 12 anos, o partido ampliou consideravelmente os gastos na área social (Bolsa Família, ProUni, Mais Médicos). Embora esse Estado-provedor tenha um perfil distinto do Estado-fazedor de Quércia e Maluf, seu custo também é elevado.

Isso não agrada à maioria dos paulistas: 52% preferem "pagar menos impostos e contratar serviços particulares de educação e saúde", aponta o Datafolha. Talvez a classe média não seja majoritária em São Paulo, mas seu modo de ver o mundo seguramente é.

Como observou Renato Janine Ribeiro no artigo "Mal-Estar na Sociedade Brasileira", essas pessoas não andam de transporte coletivo, não vão ao SUS, não usam escolas públicas. Pagam impostos, mas estes só beneficiam "os pobres".

A classe média não está preocupada com a qualidade dos serviços que descarta: seu problema é a fatura. Ela sonha com um "governo barato": não precisa de alguém que faça mais, e sim que gaste menos. Daí sua inclinação pelo PSDB, que defende o equilíbrio fiscal e a estabilidade monetária.

Em contrapartida, esse eleitor não espera muito de seu eleito –até porque a legenda não atende a várias de suas demandas– nem se anima a ir às ruas para defendê-lo. A posse de Fernando Henrique Cardoso em 1995 reuniu 4.000 pessoas –bem menos que as 20 mil que foram à posse de Collor, em 1990, e muitíssimo menos que as 150 mil que acompanharam a de Lula, em 2003.

O distanciamento crítico da classe média em relação a seus representantes na cena política explica por que o PSDB nunca produziu um líder carismático. Nem poderia. O carisma não emana do líder: é projetado nele pela massa. As estrelas da política brilham com essa luz emprestada. Sem ela, o céu de São Paulo escureceu.

MAURICIO PULS é jornalista da Folha.


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