Folha de S. Paulo


Editorial: As batalhas de Obama

Já na reta final de seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, Barack Obama dá mostras de que pretende manter o protagonismo político no tempo que lhe resta na Casa Branca.

O último sinal disso foi emitido na noite de terça-feira (20), em seu discurso do Estado da União, o mais tradicional e importante do ano. Ali estava um presidente confiante, por vezes desafiador; diante de um Congresso dominado pela oposição republicana, exibiu seus êxitos na economia e defendeu uma agenda mais à esquerda.

Mirou sobretudo o futuro: dos Estados Unidos, de seu partido nas eleições de 2016 e o seu próprio.

Afirmou que, após a recente recuperação econômica, o país precisa virar a página. "Saímos da recessão mais livres para escrever nosso futuro que qualquer nação na Terra", disse Obama.

Com efeito, o PIB americano cresceu 5% no terceiro trimestre de 2014, e a taxa de desemprego voltou ao patamar pré-crise (5,6%).

Os ganhos, contudo, se distribuíram desproporcionalmente pela sociedade, e parte da população ainda sente os efeitos dos problemas na economia. O presidente, por isso, trouxe o tema da desigualdade para o centro do debate.

"Aceitaremos uma economia na qual apenas uns poucos são bem-sucedidos? Ou nos comprometemos com uma economia que gere aumento da renda e oportunidades para todos os que se esforçarem?"

Seu foco é a melhora das condições da classe média e dos mais pobres; sua solução, bancar benefícios sociais com o aumento dos impostos sobre os mais ricos e as grandes instituições financeiras.

A chance de tais medidas serem aprovadas num Congresso hostil a Obama, no entanto, aproxima-se de zero, e o mandatário norte-americano sabe disso. Seu olhar, todavia, volta-se para as eleições de 2016. Pretende não só pautar as discussões vindouras como também associar aos democratas a marca da defesa da classe média.

Por fim, o presidente defendeu iniciativas tomadas recentemente por meio de decretos, como o acordo climático com a China, a reforma imigratória e o restabelecimento das relações com Cuba –todas ações que se inscrevem no esforço de garantir seu legado histórico.

Quem assistiu ao discurso de Barack Obama percebeu, uma vez mais, que são merecidos os elogios que sempre recebe pelas qualidades de orador. Os democratas talvez lamentem, mais uma vez, que seu presidente vença muitas batalhas retóricas, mas poucas reais.


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