Folha de S. Paulo


Alan Gripp: Ricupero FC

SÃO PAULO - O país estava atordoado pelos 7 a 1 quando Felipão ofereceu suas explicações para o vexame. Àquela altura, considerando inclusive as partidas anteriores, já era evidente que a preparação para a Copa foi pífia, que tínhamos uma seleção emocionalmente em frangalhos e, mais importante, que o futebol brasileiro havia ficado para trás, em talento e ideias.

O treinador, porém, aumentou a perplexidade geral da nação ao resumir as razões para a maior humilhação da história das Copas a uma "pane de seis minutos" –período em que os alemães fizeram quatro dos sete gols do Mineiraço.

Naquele momento, Felipão não só tentava inutilmente salvar sua imagem como praticava um esporte nacional: a camuflagem de problemas.

A modalidade foi escancarada em 1994 (ano em que o Brasil ganhou o tetra) nas palavras do então ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, apanhado numa gravação proferindo uma pérola do folclore político brasileiro: "o que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde".

Embora nem de longe com a franqueza de Ricupero, tem sido assim em momentos cruciais de governos de diferentes colorações, sempre por conveniência eleitoral.

A gestão Dilma (PT) insiste em minimizar a cada vez mais evidente deterioração da economia. E quando o faz não reconhece os seus próprios erros, atribuindo a inflação resistente e o crescimento econômico insignificante a fatores externos.

O mesmo faz a administração Alckmin (PSDB) ao tentar justificar a epidemia de roubos em São Paulo e o risco de racionamento de água, sempre com um otimismo em dissonância com dados técnicos e escorado na colaboração dos céus.

Além de ser uma óbvia obrigação na vida pública, admitir equívocos e dificuldades é uma prática que pode ser reconhecida e premiada pelo eleitor, mesmo em situações muito adversas. Ou, como se viu na Copa, evitar derrotas humilhantes.


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