Folha de S. Paulo


Editorial: Curitiba por um fio

A menos de quatro meses do início da Copa do Mundo, restava uma dúvida das mais importantes: o estádio de Curitiba, uma das 12 cidades-sede da disputa, seria excluído da competição por estar com obras muito atrasadas?

Esse impasse, ilustrativo da insuficiente preparação do país para o megaevento, foi resolvido ontem. Confirmou-se enfim que a arena paranaense receberá quatro jogos da primeira fase do Mundial.

No que naturalmente pode ser considerado uma piada pronta, o anúncio oficial da decisão foi adiado em meia hora; não satisfeita com isso, a delegação curitibana ainda atrasou mais 20 minutos em relação ao novo horário.

Desorganização à parte, trata-se, a partir de agora, como afirmou o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, de "corrida contra um prazo bastante curto e que exigirá monitoramento constante".

O estádio, de propriedade do Clube Atlético Paranaense, tem cerca de 90% das obras concluídas e deve ficar pronto somente em meados de maio, um mês antes da primeira partida que hospedará.

Do ponto de vista logístico e esportivo, é melhor que essa tenha sido a decisão da Fifa. Milhares de torcedores já compraram ingressos para os jogos na cidade e teriam de ser ressarcidos de seus gastos, em uma complexa operação, com ameaças de processos judiciais.

Ademais, redistribuir as quatro partidas para outras sedes implicaria não apenas prejudicar o gramado de outros estádios como obrigar seleções e patrocinadores a rever seus planos para deslocamentos aéreos, hospedagens e campos de treinamento.

A decisão de manter a participação de Curitiba no Mundial, contudo, também tem seus custos. Acelerar obras de última hora, aliás, é uma das muitas estratégias utilizadas por quem tem pouco apreço pelos recursos públicos –o que contraria a surrada cantilena de que a Copa seria financiada majoritariamente pela iniciativa privada.

Não bastassem os R$ 226 milhões já recebidos pelo Atlético-PR em financiamentos do BNDES e do governo do Paraná, serão necessários outros R$ 65 milhões em empréstimos estaduais ao clube para concluir a arena.

São Paulo e Porto Alegre, as outras sedes em que os estádios são privados, também têm imbróglios quanto aos dispêndios com o aluguel de instalações temporárias exigidas pela Fifa. É provável que boa parte dessa despesa, estimada em R$ 40 milhões por cidade, seja assumida pelas prefeituras.

Embora não constitua novidade, a querela reforça as críticas à organização da Copa, para nada dizer do prometido legado de infraestrutura e mobilidade urbana, há muito relegado.


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