As campanhas eleitorais na Catalunha e a atenção do público se voltaram mais uma vez nas últimas semanas ao que os críticos já apelidaram de "monotema": o independentismo.
As principais forças políticas catalãs foram divididas entre aquelas favoráveis à independência, os chamados "separatistas", e aquelas contra, os ditos "constitucionalistas".
Em um dos poucos cartazes nas ruas, por exemplo, o conservador Partido Populista usou uma foto de seu candidato Xavier García Albiol ao lado da frase "a Espanha é a solução".
Mas o pleito desta quinta-feira (21) não decide se a Catalunha segue parte da Espanha, e sim a formação do Parlamento que legislará nos próximos quatro anos nessa rica região no nordeste do país —decidindo, por exemplo, suas políticas de habitação, educação e saúde.
"Fomos pegos em uma armadilha", afirma à Folha Carlos Pallarol, que votou em Barcelona. "O marco eleitoral se situou somente nesse eixo nacional e territorialista, e não houve debate sobre as questões públicas fundamentais, que ficaram relegadas ao segundo plano."
A constante discussão sobre a independência catalã se sobrepôs, por exemplo, à crise ligada ao valor médio do aluguel em Barcelona, diz Pallarol. "A atividade parlamentar ficou congelada."
Segundo o jornal espanhol "El País", o governo catalão reduziu em 40% o orçamento para a rubrica da habitação desde 2012. A queda na construção de moradias populares chegou a 46%. Hoje, 19% da população catalã vive sob risco de pobreza (ou seja, possui renda familiar inferior a 60% da mediana da renda da Espanha) —outro tema tímido nestes debates eleitorais.
PROPOSTAS SOCIAIS
A intensificação do processo separatista catalão, a partir de 2006, coincidiu com a crise financeira mundial de 2008 e com os acentuados cortes nos gastos sociais nessa região. Mas o assunto pareceu marginal nas campanhas deste pleito, segundo Amaya Pou, 31.
"Muita gente no meu entorno está votando pautada no separatismo, e não nas propostas sociais dos partidos", diz. "Votam para apoiar o projeto independentista ou para castigá-lo."
Esse voto, ela afirma, é "visceral" e incomoda. "Me sinto manipulada por todos os lados."
O "monotema" contaminou mesmo a capital espanhola, Madri, onde nos últimos meses houve manifestações contra a secessão catalã. Também ali o debate público passou a versar sobre esse mesmo assunto —ignorando, por exemplo, os escândalos de corrupção que envolvem o governista Partido Popular.
"Tudo acabou coberto pelas bandeirinhas", diz Pallarol, sejam da Espanha ou da Catalunha. O debate público, afirma, se tornou um território apenas para os pontos de vista extremos sobre a nação.