Às 18h05 (horário local) de 22 de novembro de 1963, o jornal regional britânico "Cambridge News" recebia um misterioso telefonema. A chamada, anônima, apenas se referia a "uma grande notícia nos Estados Unidos".
Vinte e cinco minutos depois, o presidente americano John F. Kennedy era alvejado em Dallas, no Texas. O 35º presidente dos Estados Unidos foi morto a tiros enquanto desfilava com a primeira-dama Jacqueline Kennedy em uma limusine aberta. O caso alimenta teorias da conspiração até hoje.
O telefonema britânico foi registrado em um memorando em 26 de novembro daquele ano, tornado público pelos Arquivos Nacionais dos EUA em julho, mas passou despercebido. Agora, volta a ser revelado com uma leva de documentos relacionados ao assassinato e sua investigação, que perderam o status de confidencialidade nesta quinta-feira.
O memorando, escrito pelo vice-diretor do FBI James Angleton ao então chefe da agência, J. Edgar Hoover, informava que o serviço de inteligência britânico MI-5 havia apurado que o misterioso telefonema fora feito a um repórter sênior do jornal de Cambridge.
"O autor da ligação disse apenas que o repórter do 'Cambridge News' deveria telefonar à Embaixada dos EUA em Londres para uma grande notícia e então desligou", dizia o memorando.
"Após saber da morte do presidente, o repórter informou a polícia de Cambridge do telefonema anônimo e a polícia informou o MI-5. A questão importante é que a ligação foi feita, segundo os cálculos do MI-5, cerca de 25 minutos antes de o presidente ter sido alvejado. O repórter nunca havia recebido uma ligação desse tipo antes, e o MI-5 afirma que ele (jornalista) é conhecido deles como uma pessoa sensata e leal, sem nenhum histórico (de problemas) de segurança."
O memorando acrescentou que telefonemas anônimos similares "de uma natureza estranhamente coincidente" haviam sido recebidos por pessoas no Reino Unido ao longo do ano anterior, "particularmente em conexão com o caso de Dr. Ward" —uma aparente referência ao médico Stephen Ward, personagem central do escândalo político britânico chamado Caso Profumo, que abalou o governo conservador no início dos anos 1960.
A atual equipe do "Cambridge News" diz desconhecer a identidade do repórter que recebeu o telefonema, mas vai localizar antigos repórteres dos anos 1960 para tentar descobrir.
"É (uma história) de cair o queixo", afirma a repórter Anna Savva. "Não temos nada a respeito em nosso arquivo, e ninguém (na redação do 'Cambridge News') sabe o nome da pessoa que recebeu o telefonema."
Em um vídeo publicado no site do jornal, o chefe de reportagem Chris Elliott diz que a incógnita inicialmente veio à tona nos anos 1980.
"Um advogado de Londres, Michael Eddowes, começou a investigar um documento que supostamente conseguiu na CIA (agência de inteligência dos EUA)", disse.
"Nesse documento, mencionava-se um telefonema feito ao 'Cambridge News' advertindo que algo grande ia acontecer. (...) Não sabemos se o telefonema de fato foi feito, não sabemos qual repórter recebeu o telefonema e não sabemos qual seria a razão para alguém telefonar para um jornal de Cambridge a respeito disso."
Elliott disse que o advogado Eddowes, que morreu em 1992, "estava convencido de que havia algum tipo de conspiração" e que o telefonema pode ter sido um entre vários feitos a jornais e outros veículos de imprensa para tentar fomentar a ideia de que a morte de Kennedy fora orquestrada.