Folha de S. Paulo


Reviravolta global impõe desafios à esquerda, dizem especialistas

Reinaldo Canato/Folhapress
A partir da esq., Matias Spektor, Patrícia Campos Mello, repórter especial da Folha, e Luiz Felipe de Alencastro
A partir da esq., Matias Spektor, Patrícia Campos Mello, repórter especial da Folha, e Luiz Felipe de Alencastro

Qual o significado da vitória de Donald Trump, nos EUA, e de Emmanuel Macron, na França? Como esquerda e direita podem se posicionar dentro dessa nova ordem política na América e na Europa? Essas e outras questões foram debatidas nesta sexta (19) em encontro realizado pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e pelo caderno "Ilustríssima".

O evento reuniu Matias Spektor, professor de relações internacionais da FGV e colunista da Folha, e Luiz Felipe de Alencastro, professor de economia da FGV.

A eleição de Trump, a vitória do 'brexit' no Reino Unido e a aliança do novo presidente francês com a direita não só mostram, segundo Spektor, o esvaziamento da esquerda nos EUA e na Europa como lhe impõem um dilema: radicalizar ou tentar recuperar o eleitorado de centro?

Na Europa, para Alencastro, o grande problema da esquerda é não conseguir oferecer um projeto alternativo para o continente. "Ela não conseguiu dar dimensão europeia para seus eixos tradicionais: social-democracia, sindicalismo, keynesianismo".

De acordo com Alencastro, a vitória de Macron representa a sobrevida do projeto de integração europeu, que, como lembrou, surgiu não para deixar seus países ricos, mas para evitar uma nova guerra no continente –"no que foi muito bem-sucedida".

Hoje, porém, a vitalidade da UE passa pela proposição de políticas que sejam capazes de trazer crescimento para a região –um dos grandes desafios do novo líder francês, na visão de Alencastro.

Tratando da situação americana, Spektor vê em Donald Trump alguém que ainda se mantém em campanha e que, por isso, se beneficia sempre que radicalismos, de ambos os lados do espectro político, se acentuam, mas perde com o fortalecimento do centro.

O professor de relações internacionais da FGV sugeriu que se lesse o livro de Trump em que ele expõe sua maneira de fazer negócios. "Ele imprime seu estilo pessoal de negociação na política americana: acuar o adversário para tirar vantagens".

A tática tem funcionado, segundo Spektor, como demonstram os resultados dos encontros com a chanceler alemã, Angela Merkel, com o presidente chinês, Xi Jinping, e com a primeira-ministra britânica, Theresa May, entre outros.

Por fim, Spektor disse que não acredita no impeachment de Trump neste momento, visto que o Congresso é dominado pelo partido do presidente, o Republicano.

"Seria necessário um crime inconteste para que congressistas republicanos apoiassem a derrubada de um presidente que é forte entre a base do partido", disse.


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