Folha de S. Paulo


Macri critica chanceler venezuelana por tentar invadir cúpula do Mercosul

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, respondeu nesta sexta-feira (16) ao número dois do chavismo, Diosdado Cabello, que o havia chamado de covarde pelo tratamento dado à chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, em Buenos Aires.

Em seu programa na TV de seu país na quinta, Cabello disse que Macri deveria retirar o representante diplomático argentino em Caracas, Eduardo Porreti. "Que esse homem faça suas malas e que vá embora. Seu governo é inimigo da pátria de Bolívar."

Emiliano Lasalvia/AFP
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, concede entrevista com a colega chilena, Michelle Bachelet
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, concede entrevista com a colega chilena, Michelle Bachelet

Macri disse que "covarde é submeter um povo pela força e não deixá-lo se expressar".

Na tarde desta sexta, durante um ato em Caracas, foi a vez de o presidente venezuelano Nicolás Maduro apoiar as declarações de Cabello. "Macri é um covarde, um ladrão e um oligarca", acusando o argentino de ter ordenado uma suposta agressão à Rodríguez. "Macri, não se meta com as mulheres."

Depois, acrescentou: "O povo argentino se encarregará de você, Macri, você vai secar como todo aquele que se mete com os filhos de Chávez e de Bolívar."

Na quarta (14), Rodríguez havia ido à capital argentina para integrar a cúpula de chanceleres do Mercosul, apesar de a participação da Venezuela no bloco ter sido "cessada" há duas semanas.

Ela foi impedida pela colega argentina, Susana Malcorra, e em seguida tentou forçar a entrada na reunião, causando confusão entre a comitiva, manifestantes contrários a Macri e a polícia.

O governo venezuelano acusou, no dia seguinte, os policiais argentinos de terem ferido Rodríguez, algo que não se observou no local: a chanceler se despediu dos manifestantes e foi embora.

Com relação ao episódio de Rodríguez, o argentino disse ainda que é "uma pequena anedota perto do problema maior, que é a pobreza, o abandono e o desrespeito aos direitos humanos que vêm ocorrendo na Venezuela."

Também recriminou a chanceler porque "uma pessoa não pode se convidar a um encontro ao qual não foi chamada" e criticou as imposições de Maduro aos cidadãos.

"Nós desejamos apenas que tudo isso acabe e que os venezuelanos possam finalmente decidir sobre o seu futuro", disse, depois de encontro com a presidente do Chile, Michelle Bachelet.

A Argentina defende que se realize o referendo que revoga o mandato de Maduro, como quer a oposição venezuelana. A ideia da consulta, no entanto, perdeu força depois que a Justiça anulou parte das assinaturas necessárias para fazer a votação.

Isso impediu que o referendo pudesse ocorrer antes de 10 de janeiro, quando vence o prazo para que se realizassem eleições diretas em caso de saída de Maduro. Agora, se a consulta for feita, o vice-presidente assume o poder.

Também questionada sobre a cessação de participação da Venezuela no Mercosul, Bachelet disse que a questão não cabe ao Chile, que é membro associado. Porém, respeita a decisão dos integrantes permanentes. "Mostramos nossa preocupação e apoiamos a via do diálogo para um encerramento pacífico dessa situação."

Outro associado ao Mercosul, a Bolívia alinhou-se à Venezuela. O chanceler boliviano, David Choquehuanca, inclusive participou da confusão em Buenos Aires.

ALIANÇA DO PACÍFICO

Os dois mandatários também trataram de uma possível aproximação entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico. Macri propôs uma reunião para discutir o tema.

Bachelet, por sua vez, diz que vê de forma positiva o desejo de a Argentina, que já é membro observador da Aliança do Pacífico, "vir a ser integrante do bloco."


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