Folha de S. Paulo


Governo da Turquia prende editor-chefe de jornal opositor

O governo turco deteve nesta segunda-feira (31) Murat Sabuncu, editor-executivo do jornal opositor "Cumhuriyet". Foram fechados também 15 veículos de imprensa.

Sabuncu foi detido com o colunista Guray Oz, e a polícia busca agora o chefe de seu comitê executivo, Akin Atalay, de acordo com a filial da rede CNN na Turquia.

A Turquia tem perseguido e detido opositores desde uma tentativa de golpe militar em 15 de julho. Dezenas de veículos já foram fechados.

Ozan Kose/AFP Photo
Em frente à sede do Cumhuriyet, membros da oposição turca seguram cópias do jornal onde se lê: 'golpe contra a oposição
Em frente à sede do Cumhuriyet, membros da oposição turca seguram cópias do jornal onde se lê: 'golpe contra a oposição'

As autoridades acusam os jornalistas de cometer crimes em nome dos militantes curdos e do clérigo exilado Fetullah Gülen, acusado de orquestrar a tentativa de golpe ocorrida em julho.

Can Dundar, que foi editor-chefe do "Cumhuriyet", foi condenado a cinco anos de prisão no início do ano por uma reportagem sobre o envio de armas turcas a rebeldes sírios. Ele vive na Alemanha, e foi indicado ao prêmio Sakharov para a liberdade de expressão.

O "Cumhuriyet" é um dos jornais mais antigos da Turquia e é visto como um dos últimos redutos da oposição.

Entre os veículos afetados pelas medidas recentes está a agência de notícias Jinha, em que trabalham apenas mulheres. "Ninguém explicou nada para a gente", afirmou a jornalista Beritan Canözer para a Reuters. As publicações teriam "legitimado" a insurgência, de acordo com uma nota oficial.

O governo demitiu também 10 mil servidores públicos durante o final de semana, como parte de suas controversas medidas pós-golpe.

O país segue em estado de emergência até janeiro, o que permite que o presidente Recep Tayyip Erdogan suspenda direitos e liberdades sem passar pelo Parlamento.

EXPURGO

A tentativa de golpe de 15 de julho, que contou com tanques e helicópteros e quase teve sucesso, deixou mais de 270 mortos. Erdogan tem sufocado o país desde então, em um cenário de constante piora das liberdades civis, levando a atritos com a União Europeia.

Especialistas ouvidos recentemente pela Folha preocupavam-se que o ambiente de perseguições leve a uma fuga de cérebros. Ademais, as milhares de detenções causam a discriminação de determinados setores sociais.

A agência de notícias estatal Anadolu afirma que mais de 37 mil pessoas foram formalmente presas desde o início do expurgo, e cerca de 100 mil funcionários foram demitidos ou suspensos.


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