Folha de S. Paulo


Independentes nanicos passam a receber descontentes com Trump

Para republicanos incapazes de "tapar o nariz" e votar em Donald Trump, atingido por sucessivas acusações de assédio sexual, Gary Johnson está de braços abertos.

O presidenciável do Partido Libertário se beneficia da sangria de recursos que atinge a campanha do empresário. Dois grandes doadores confirmaram ao "New York Times" que apoiarão o nome da terceira via. Um deles já destinou US$ 5 milhões a republicanos; o outro doou US$ 3 milhões para causas conservadoras e agora está "torcendo por Johnson".

O libertário não participará do terceiro e último debate entre candidatos, na quarta (19) —pelas regras, precisava ter 15% na média de pesquisas nacionais. O site "Real Clear Politics" calcula que tenha 6,6%, contra 44% de Hillary, 39% de Trump e 2% de Jill Stein (Partido Verde).

Ex-governador do Novo México (era então republicano), Johnson tem apoio de seis jornais de alcance regional e de artistas como o baixista Krist Novoselic (Nirvana) e Melissa Joan Hart (de "Sabrina", série dos anos 1990).

Ele conquistou 1% dos votos ao disputar a Casa Branca em 2012 e, hoje, mantém-se na corrida após duas gafes sobre política internacional: perguntou "o que é Aleppo" quando um jornalista o questionou sobre a cidade símbolo da crise síria; em outra entrevista não citou nenhum nome ao ser indagado sobre qual líder estrangeiro mais admira.

O CASO DE UTAH

Ex-agente da CIA e outrora republicano, o independente Evan McMullin entrou na corrida só em agosto, nem aparece na cédula em todos os Estados e ainda assim tem chances (remotas) de virar presidente —graças a Utah.

Desde 1968, o Estado, um dos mais conservadores do país, só elege republicanos. No último pleito, Barack Obama teve 25% dos votos por lá. Mas Trump não é o candidato dos sonhos no eleitorado local —mais da metade mórmon.

Pesquisa da Universidade Monmouth revela uma corrida apertada: Trump 34%, Hillary 28%, McMullin 20% e Johnson 9% —a maior parte da sondagem foi conduzida antes de surgir o vídeo machista do republicano.

Com uma forcinha do ex-presidenciável (e mórmon) Mitt Romney, maior porta-voz do movimento "Nunca Trump" entre republicanos, McMullin tem chance de ganhar por lá, na matemática do site "FiveThirtyEight".

Poderia bastar. Nos EUA, o presidente é escolhido pelo Colégio Eleitoral. Nesse sistema, os eleitores são representados por uma comissão estadual. Exemplo: se a Flórida preferir Trump, seus 29 delegados votam nele.

Às contas: pequenino, Utah tem seis dos 538 representantes. Mas, vencendo lá, McMullin pode impedir que Hillary ou Trump alcancem a maioria necessária (270 votos) para se elegerem.

MCMULLIN PRESIDENTE?

Aí, a Câmara decide, a partir dos três mais votados, qual candidato comandará o país. A Casa tem maioria republicana, mas a lealdade a Trump é frouxa. Presidente McMullin, portanto? Muito improvável, mas não impossível.

No mínimo, ajuda a rachar a base conservadora. "A grande maioria dos que escolherem Johnson ou McMullin seria normalmente um eleitor republicano, então isso beneficia Hillary", afirmou à Folha Robert Shapiro, da Universidade Columbia.


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