Folha de S. Paulo


Premiê britânica aceitou falar das Malvinas, afirma Macri

Mike Segar - 20.set.2016/Reuters
Mauricio Macri fala na Assembleia Geral da ONU, em Nova York
Mauricio Macri fala na Assembleia Geral da ONU, em Nova York

Uma entrevista do presidente Mauricio Macri sobre a disputa das Ilhas Malvinas (ou Falklands, para os britânicos) repercutiu mal em Buenos Aires e alimentou críticas ao governo.

Segundo os diários "La Nación" e "Clarín", na noite de terça (20), após discursar na Assembleia Geral da ONU, Macri afirmou a jornalistas que o acompanham em Nova York que a primeira-ministra britânica, Theresa May, havia aceitado discutir a soberania das Malvinas.

Poucas horas antes, em seu discurso, o presidente havia reiterado que o governo argentino estava disposto a dialogar com Londres sobre o território, administrado pelo Reino Unido. Os dois países entraram em guerra por causa do arquipélago em 1982, com vitória dos britânicos.

À imprensa Macri informou que, durante o almoço, havia cumprimentado May e dito a ela que estava pronto para um diálogo que incluísse a questão da soberania.

Questionado sobre a resposta da premiê, o presidente afirmou que May concordara. "Ela disse que sim, que há que começar as conversas. As coisas levarão anos, mas é importante que comecemos. Ela está de acordo."

Uma disposição para debater as Malvinas, porém, mudaria a posição histórica do Reino Unido, que não abre mão do território.

Onde fica - Malvinas

A chanceler argentina, Susana Malcorra, correu para amenizar o tom. Na própria terça, divulgou uma nota em que afirmava que os dois dirigentes conversaram sobre a "possibilidade de haver um encontro mais específico para que os países avancem em múltiplos assuntos, entre eles o das Malvinas".

Nesta quarta, entretanto, Macri insistiu e, em nova entrevista, frisou o conteúdo da conversa. "A primeira-ministra britânica se aproximou para me cumprimentar e dizer que esperava que, no futuro, nos sentássemos para dialogar. Eu disse que a Argentina estava pronta para uma conversa aberta, que inclua todos os assuntos, entendo por isso a soberania."

Segundo a imprensa argentina, diplomatas britânicos que também estão em Nova York negaram que May tenha se mostrado disposta a tratar da questão.

DIPLOMACIA

O kirchnerista Daniel Filmus, que foi secretário de assuntos relacionados às Malvinas entre 2014 e 2015, aproveitou o imbróglio para atacar o presidente. "Macri mostrou uma enorme ignorância sobre a diplomacia internacional, principalmente sobre a questão das Malvinas."

Andrés Cisneros, número dois do Ministério das Relações Exteriores da Argentina entre 1996 e 1999, disse à Folha que a afirmação de Macri foi uma lástima e que é "óbvio" que May não trataria de uma questão como a soberania em uma conversa de corredor. "Quem acompanha [o assunto] sabe que o Reino Unido não tem intenção de debater as Malvinas hoje."

A discussão na Argentina sobre as ilhas está mais sensível desde a semana passada, quando os governos argentino e britânico publicaram, conjuntamente, um comunicado em que anunciam a cooperação entre os países para "remover todos os obstáculos que limitam o crescimento econômico das Malvinas, incluindo comércio, pesca, navegação e hidrocarbonetos."

A oposição não gostou do conteúdo da nota e chamou Malcorra para se explicar no Congresso.

Nesta quarta (21), o Senado aprovou uma declaração que ratifica "a legítima e imprescindível soberania sobre as Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul e os espaços marítimos correspondentes como parte do território nacional" -frase que também consta na Constituição argentina de 1994.

De acordo com Cisneros, porém, a forma de Macri se aproximar do Reino Unido é positiva por garantir a criação de confiança entre os países, o que poderia permitir, no futuro, uma discussão sobre a soberania.

"Tratar a questão de forma emocional, com raiva dos ingleses [como fez Cristina Kirchner], não nos trouxe nenhuma solução.


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