Folha de S. Paulo


Fritas acompanham a dieta calórica e cheia de fast food de Donald Trump

O presidente Barack Obama é tão disciplinado que sua mulher já ironizou, dizendo que ele come exatamente sete amêndoas levemente salgadas por noite.

George W. Bush gostava de fazer exercícios físicos e era obcecado por se manter em forma, praticando mountain bike e derrubando mato em seu rancho em Crawford, Texas.

Mas Donald Trump é diferente: quer se tornar o primeiro presidente do país aficionado por fast food. "Um McFish de vez em quando, certo?" Trump disse a Anderson Cooper num encontro promovido pela CNN em fevereiro, louvando as qualidades do McDonald's. "O Big Mac é muito bom, o Quarteirão com Queijo, também. São ótimos."

A campanha presidencial de Trump é improvisada, indisciplinada, apressada e autoindulgente. E o mesmo se aplica à dieta do candidato.

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Numa era de cozinha gourmet e obsessão por ingredientes saudáveis, Trump é um resquício de uma época anterior em que os americanos eram mais despreocupados em seus hábitos alimentares, quando ninguém se dava ao trabalho de perguntar se os tomates eram cultivados localmente e a primeira-dama com certeza não tinha uma horta e uma colmeia de abelhas no gramado sul da Casa Branca.

Trump, porém, vem divulgando suas preferências culinárias ao país em posts no Facebook, Instagram e Twitter –devorando um balde de frango frito KFC (enquanto lê "The Wall Street Journal"), fazendo a festa com um hambúrguer e fritas do McDonald's (para comemorar sua escolha para candidato presidencial republicano) e mastigando toda uma bacia de tacos (num esforço para cortejar os eleitores hispânicos).

Ele aprecia fast food e a comida de restaurantes baratos, bifes mais que bem passados ("a carne era tão bem passada que era como uma pedra sobre o prato", observou certa vez seu mordomo de muitos anos) e a culinária americana convencional. Ele prefere hambúrgueres e bolo de carne, saladas caesar e espaguete, doces See's Candies e Coca diet. E evita chá, café e bebidas alcoólicas.

Mas sua imagem ao mesmo tempo de elite e proletária –do magnata "jet-setter" que leva baldes de frango frito para comer em seu avião particular em que os cintos de segurança são fechados com fivelas folheadas a ouro– também é montada com cuidado.

Se o presidente Bush revelava sua criação patrícia ao pedir "uma gota" a mais de café quando parava num posto de caminhoneiros em New Hampshire, enquanto John Kerry ajudou a reforçar sua imagem de aristocrata da Nova Inglaterra quando tentou pedir um "cheesesteak" com queijo suíço em Filadélfia, a alimentação praticada por Trump transmite à sua base eleitoral de colarinho azul que o republicano é igual a eles.

"Não existe nada mais americano e mais 'povão' que o fast food", comentou o estrategista republicano e criador de anúncios Russ Schriefer. "Uma peculiaridade de Trump é que ele consegue estar em seu jato multimilionário com as cores e os símbolos dourados e pretos e ao mesmo tempo comer frango KFC –e o que faz todo o sentido é que ele o faz com garfo e faca, enquanto lê 'The Wall Street Journal'."

Ou, explicou Kellyanne Conway, assessora sênior da campanha de Trump, "isso faz parte da autenticidade dele. Duvido que Hillary Clinton coma o frango frito e biscoitos da rede Popeye."

Em abril deste ano, Hillary foi a um restaurante da rede Chipotle perto de Toledo, Ohio, entrando sem ser reconhecida, de óculos escuros, e pedindo burritos de frango. No caso de Donald Trump, porém, o gosto pelo fast food parece ser genuíno.

O "junk food" faz parte há anos da vida nas campanhas eleitorais; em 2012 os assessores de imprensa de Mitt Romney cunharam o termo "slunch" para descrever o fenômeno pouco saudável do "second lunch", ou segundo almoço. Mas o apreço de Trump por comida com alto teor calórico se deve mais a questões de rapidez, eficiência e, sobretudo, higiene.

Quando está trabalhando no edifício Trump Tower, em Manhattan, o candidato frequentemente pede comida do Trump Grill. Mas consome fast food várias vezes por semana quando está na estrada, "porque é rápido", ele disse ao "Daily Mail" no ano passado enquanto mastigava um sanduíche Burger King em seu Boeing 757-200.

Trump chegou a sugerir que sejam eliminados os jantares de Estado, para poupar custos e tempo. "Deveríamos comer um hambúrguer na própria mesa de conferências. Deveríamos fechar acordos melhores com a China e outros países e esquecer os jantares de Estado", disse ele.

Ele, que se preocupa com micróbios e preza a higiene, também gosta do fast food porque é sempre igual e promete pelo menos um nível básico de higiene.

"Bastaria um hambúrguer estragado para destruir o McDonald's", ele disse a Anderson Cooper, da CNN. "Um hambúrguer estragado, e o Wendy's e todos esses outros lugares estariam acabados. Sou uma pessoa muito limpa. Gosto de higiene, e acho melhor ir para esses lugares que para algum lugar onde você não tem ideia de onde vem a comida. É um certo padrão." Além disso, ele acrescentou, "acho a comida boa".

Em uma ocasião, Trump, que às vezes toma sua Coca diet com canudo, levou "foodies" de Manhattan a chorar sobre seus pratos de quinoa quando levou Sarah Palin a uma pizzaria Famous Famiglia na Times Square e cortou sua pizza com garfo e faca de plástico.

Ele tem outras pretensões também. Howie Carr, colunista do "Boston Herald", contou que viajou no avião de Trump e o viu arrancar o pão de seus hambúrgueres McDonald's e então encher os hambúrgueres de ketchup ("sabe quantas calorias você economiza desse jeito?" Trump lhe perguntou). E Trump contou ao "US Weekly" que também procura reduzir as calorias da pizza ("como só a cobertura da minha pizza, nunca a massa").

Sua preferência por fast food é tão pronunciada que o advogado Philip E. Beshara, de Washington, brincou no Instagram dizendo que, com Trump na Presidência, seu gabinete provavelmente vai incluir o coronel Sanders (fundador da KFC), o Hamburglar (um dos personagens coadjuvantes do mundo de Ronald McDonald) e o chihuahua que foi mascote da rede Taco Bell.

Tradução de CLARA ALLAIN


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