Folha de S. Paulo


Em discursos, presidente da Câmara e governador reforçam ataque a Hillary

A tarefa de atacar a democrata Hillary Clinton, que Donald Trump parece executar com alegria, foi terceirizada a aliados de longa e curta data na segunda noite da Convenção Nacional Republicana.

Duas atrações se destacaram: o presidente da Câmara, Paul Ryan, que resistia até pouco a Trump, e o governador de Nova Jersey, Chris Christie, amigo do magnata "há 14 anos".

Jim Watson/AFP
O governador de Nova Jersey, Chris Christie, discursa na Convenção Republicana nesta terça
O governador de Nova Jersey, Chris Christie, discursa na Convenção Republicana nesta terça

Principal líder republicano, Ryan pediu a seu partido nesta terça (19) que deixe para trás as desavenças dos últimos meses e se una para derrotar os democratas nas eleições presidenciais de novembro.

Ele foi um dos caciques do partido incomodados com a ascensão de Trump, mas agora que o magnata foi confirmado como o candidato presidencial republicano, é hora de união, afirmou.

"Democracia é uma série de escolhas. Nós, republicanos, fizemos a nossa escolha", disse. "Se tivemos discussões? Claro que sim. Sabem como eu chamo essas discussões? Sinais de vida."

Mas, em seu discurso pouco após a confirmação de Trump como presidenciável, Ryan só mencionou o nome do empresário duas vezes, concentrando-se em ataques ao presidente Barack Obama e à provável candidata democrata à Casa Branca, Hillary Clinton.

Um dos poucos trechos em que citou Trump foi quando demonstrou otimismo de que ele será eleito.

"Que alternativa o outro partido tem neste ano incrível com tantas surpresas?", disse, ressaltando o desejo de mudança dos eleitores. "Eles oferece um terceiro mandato de Obama de outro Clinton, e vocês tem que ficar animados com isso."

A desunião do partido, depois de uma das disputas mais incendiárias de sua história, é uma das grandes preocupações dos líderes republicanos, e Ryan apelou a seus correligionários que mantenham o foco em ganhar a eleição de novembro.

Candidato a vice na chapa republicana derrotada por Obama em 2012, Ryan tentou usar seu prestígio no partido para animar os republicanos a se engajar na campanha contra Hillary.

"Vamos competir em cada parte dos EUA e ir às urnas como se cada voto importasse, porque contará. Vamos ganhar esse negócio."

TRIBUNAL

O governador Chris Christie (Nova Jersey) foi o que mais empolgou a plateia nesta terça. Ex-procurador de seu Estado, ele improvisou um "tribunal" contra a democrata, já que "o Departamento de Justiça se recusa a processá-la".

Referia-se à recomendação do FBI (a polícia federal americana) para que Hillary não fosse indiciada por usar um e-mail privado quando era secretária de Estado, potencialmente comprometendo a segurança nacional.

O caso foi engavetado uma semana após o ex-presidente Bill Clinton encontrar com a procuradora-geral dos EUA, Loretta Lynch, num aeroporto. Os dois disseram que o encontro foi um acaso, versão refutada por republicanos.

Christie jogava com a audiência em Cleveland, sede da convenção: elencava supostas falhas de Hillary e perguntava se ela era culpada ou inocente.

De volta, sem exceção, um coro animado gritava a primeira opção.

Ele não se restringiu ao episódio do e-mail, expulsando vários esqueletos do armário de Hillary.

Lembrou de sua atuação em Benghazi quatro anos atrás, quando quatro americanos, entre eles o embaixador dos EUA, foram mortos. Na época, ela era chanceler do país.

"Hillary, como um fracasso por arruinar a Líbia e criar um ninho para atividades terroristas do Estado Islâmico: culpada ou inocente?"

Cuba, China, Irã, Síria, Rússia. Christie acusou Hillary de adotar posições ora amigáveis demais, ora pouco agressivas com esses países.

Ela "não luta por nós" e "não entende as ameaças reais que a América enfrenta", disse.

Christie chegou a disputar as prévias para ser o candidato da legenda à Casa Branca, mas logo abandonou a corrida e foi um dos primeiros republicanos do alto escalão a apoiar Trump.

Virou um dos maiores escudeiros do "amigo há 14 anos" e entrou na lista de potenciais vices —o governador de Indiana, Mike Pence, acabou ficando com a vaga.


Endereço da página:

Links no texto: