Folha de S. Paulo


Acusados de lavagem de dinheiro, aliados de Cristina são processados

A Justiça argentina vai processar empresários e ex-funcionários do governo de Cristina Kirchner (2007-2015) por lavagem de dinheiro durante a campanha presidencial de 2007.

Esse é o terceiro escândalo que envolve o kirchnerismo em apenas dez dias.

No último dia 15, o secretário de Obras do governo da ex-mandatária, José López, foi preso quando tentava esconder US$ 8,9 milhões (cerca de R$ 30 milhões) em espécie em um convento na Grande Buenos Aires.

Depois, no dia 22, o traficante Martín Lanatta disse, por telefone, da prisão, à uma rádio local que Cristina sabia que seu chefe de gabinete Aníbal Fernández estava envolvido no tráfico de drogas.

Marcos Brindicci - 5.fev.2015/Reuters
O então chefe de gabinete da ex-presidente Cristina Kirchner, Aníbal Fernández
O então chefe de gabinete da ex-presidente Cristina Kirchner, Aníbal Fernández

Agora, investigações da Justiça apontam que 886 mil pesos (aproximadamente R$ 210 mil) de origem ilegal foram colocados na campanha da Frente para a Vitória (coalizão de base do kirchnerismo) em 2007.

Entre os envolvidos no crime estão o ex-superintendente de Serviços de Saúde (órgão ligado ao Ministério da Saúde), Héctor Capaccioli, e o ex-gerente da Anses (equivalente ao INSS brasileiro) Sebastián Gramajo, além de quatro executivos do setor farmacêutico ligados às empresas Multipharma, Global Pharmacy e Seacamp.

De acordo com o processo, as empresas não tinham caixa suficiente para fazerem as doações à campanha.

Uma das empresárias investigadas é Solange Bellone, viúva de Sebastián Forza, um dos três homens assassinados em 2008 no que ficou conhecido como Triplo Crime.

O traficante Martín Lanatta, preso pelos assassinatos, afirma que Aníbal Fernández, o ex-chefe de gabinete de Cristina, é o mandante do crime, que teria sido encomendado para retirar do tráfico os então comandantes do negócio de efedrina (matéria-prima de drogas sintéticas).

SITUAÇÃO DELICADA

Cristina Kirchner e seus aliados estão em situação delicada na Justiça. Ela é suspeita de enriquecimento ilícito e falsificação de documentos públicos, além de estar sendo processada por má administração de recursos públicos.

Imóveis da ex-mandatária são investigados sob suspeita de serem alugados pelos empresários Cristóbal López e Lázaro Báez como forma de pagamentos de propina.

Marcos Brindicci - 11.abr.2016/Reuters
A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner acena para seguidores ao chegar a Buenos Aires em abril
A ex-presidente argentina Cristina Kirchner acena para seguidores ao chegar a Buenos Aires em abril

As companhias dos dois foram grandes vencedoras de licitações nos últimos anos. Também há um caso em que se suspeita que Báez (preso há mais de um mês) tenha pago diárias em hotéis de Cristina sem que os quartos tenham sido realmente ocupados.

O ministro de Planejamento kirchnerista, Julio De Vido, é alvo de um processo, instaurado nesta semana, que analisa a concessão de benefícios a empresas ferroviárias na negociação de contratos e de outro que o responsabiliza por um acidente de trem que matou 51 pessoas em 2012 —ele, como ministro, não teria controlado o funcionamento da empresa Trens de Buenos Aires.

Nesta quinta (23), a Justiça ainda abriu processo contra três políticos que ocuparam o cargo de chefe de gabinete de Cristina —Fernández, Jorge Capitanich e Juan Abal Medina— por desvio de recursos do programa Futebol para Todos, no qual o governo comprou os direitos dos jogos para transmitir gratuitamente pela TV.

O atual presidente da AFA (Associação do Futebol Argentino), Luis Segura, também está sendo processado na causa.

Os kirchneristas afirmam que estão sendo perseguidos.

MEDIDAS CONTRA CORRUPÇÃO

A Câmara dos Deputados votará nesta quinta-feira o projeto da Lei do Arrependido, que permitirá a figura do delator premiado em casos de corrupção.

O presidente Mauricio Macri anunciou, também nesta quinta, que enviará ao Congresso um projeto de reforma política. A reavaliação do modelo de financiamento de partidos, porém, medida que poderia dar transparência às doações, não está no projeto e foi citada apenas como algo para uma próxima fase.

Por enquanto, o plano inclui urnas eletrônicas e debates obrigatórios. O confrontamento entre candidatos é raro no país. No primeiro turno das eleições do ano passado, o principal adversário de Macri, Daniel Scioli, se recusou a participar. No segundo, houve o primeiro debate da história da Argentina de dois candidatos em uma rodada final de eleições.

Macri também vem sendo investigado na Justiça por seu nome ter aparecido em documentos como diretor de duas empresas constituídas em paraísos fiscais. O presidente afirma que as offshores são de sua família e que nunca recebeu salário nem dividendos delas. Por isso, não as havia declarado, diz.


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