Folha de S. Paulo


Números das urnas contradizem argumento de Sanders contra Hillary

Pouco depois de Hillary Clinton discursar, na noite de terça-feira (7), como vencedora da disputa pela candidatura democrata à Casa Branca, seu oponente, Bernie Sanders prometeu ainda "lutar por cada voto e cada delegado", justificando a persistência com sua suposta habilidade em "aritmética".

Ele aludia à contagem de delegados (representantes partidários que escolhem o candidato), que diz ter esperança de virar até a convenção democrata, em julho.

Jonathan Alcorn - 7.jun.2016/AFP
O pré-candidato democrata Bernie Sanders discursa após a derrota na Califórnia, na última terça (7)
O pré-candidato democrata Bernie Sanders discursa após a derrota na Califórnia, na última terça (7)

O argumento de Sanders é que Hillary só conseguiu alcançar o mínimo de 2.382 delegados necessários para a indicação por causa dos 574 superdelegados que já declararam seu apoio a ela —e que esses líderes partidários ainda poderiam mudar seu voto antes da convenção.

A vitória de Hillary, no entanto, não foi garantida apenas pelos superdelegados.

A ex-secretária de Estado venceu 32 das 55 prévias disputadas, obteve 56,7% do voto popular e contabilizou 55% dos delegados definidos pelo voto nas urnas. Para conseguir a candidatura, é necessário obter mais de 50% do total de delegados.

Prévia da Eleição nos EUA

Os números de Hillary são, percentualmente, melhores que os de Barack Obama, na ainda mais acirrada disputa das prévias de 2008.

Dos delegados disputados no voto com Hillary na época, Obama obteve 52%. No voto popular, sua margem foi ainda mais apertada: 50,2% contra 49,8% da então senadora por Nova York.

Para o estatístico Nate Silver, o argumento de Sanders deixa de lado o "ponto principal", o de que Hillary ganhou sob "qualquer parâmetro possível". "[Hillary] Clinton será a candidata democrata porque substancialmente mais democratas votaram nela", disse em artigo no seu site, o FiveThirtyEight.

RELUTÂNCIA

Para conseguir a candidatura, Sanders precisaria de mais 507 delegados. Ainda resta uma prévia, do Distrito de Columbia —onde fica a capital, Washington—, mas lá estarão em disputa, na próxima terça (14), só 20 delegados.

Mesmo se obtivesse todos os 20 delegados ali e conquistasse o apoio dos 90 superdelegados que ainda não revelaram seu voto —algo improvável—, ele ainda teria que contar com a deserção de quase 400 dos 574 superdelegados que já se declararam com Hillary.

"Não é que Sanders só pode ganhar se um grande número de superdelegados mudar de lado. Ele só pode ganhar se um grande número de superdelegados que se comprometeram com Hillary votarem contra ela, apesar de ela ter ganho a maioria do voto popular", destaca Silver.

O diretor do Centro para Política da Universidade da Virgínia, Larry Sabato, criador do boletim de análise política Sabato's Crystal Ball, concorda que o cenário previsto por Sanders é implausível e só seria factível se algo "muito ruim" acontecesse com Hillary, como um processo pelo uso de e-mail privado para tratar de questões de trabalho quando era chanceler.

"Sanders não tem um argumento forte para sua candidatura: Clinton ganhou milhões de votos e centenas de delegados a mais. Além disso, a contagem de superdelegados faz parte das regras", diz Sabato. "E você não pode mudar as regras no meio do jogo."


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