Folha de S. Paulo


Obama diz a doadores que hora de se unir por Hillary Clinton está chegando

Em raras declarações francas, o presidente Barack Obama disse em conversa particular com um grupo de doadores do Partido Democrata, na sexta-feira, que o senador Bernie Sanders está se aproximando do ponto em que sua campanha contra Hillary Clinton terá de acabar, e que o partido deve se unir rapidamente em torno dela.

Obama reconheceu que Hillary é vista com pontos fracos em sua candidatura, e que alguns democratas não a reconhecem como autêntica. Mas ele não deu importância exagerada à autenticidade, apontando que o presidente George W. Bush –contra cujo legado Obama conduziu uma campanha agressiva em 2008– também foi elogiado por sua autenticidade, no passado.

Obama fez as declarações depois que os repórteres foram embora de um evento de arrecadação de fundos para o Comitê Nacional Democrata, em Austin, Texas. Os comentários foram descritos por três pessoas que estiveram presentes no evento, todas os quais receberam a promessa de que seu anonimato seria preservado para que pudessem revelar um momento franco do presidente. Os comentários foram mais tarde confirmados por um funcionário da Casa Branca.

Joe Raedle/AFP
Pré-candidata democrata Hillary Clinton fala a partidários em centro de convenção em Miami
Pré-candidata democrata Hillary Clinton fala a partidários em centro de convenção em Miami

Obama escolheu com cuidado as suas palavras e não pediu explicitamente que Sanders abandonasse a disputa, de acordo com pessoas presentes. Mas espectadores disseram em entrevistas que entenderam os comentários do presidente como sinal a Sanders de que perpetuar sua campanha, que agora enfrenta obstáculos quase intransponíveis, só ajudaria os republicanos a reconquistar a Casa Branca.

A mensagem de Obama surgiu em um momento crítico para Sanders, que havia acabado de impor uma derrota inesperada a Clinton na primária do Michigan e vinha tentando convencer os democratas de que sua campanha não havia chegado ao fim, a despeito da vantagem formidável de Hillary em número de delegados conquistados.

Obama vem tomando cuidado para não fazer comentários desfavoráveis sobre Sanders publicamente, dado seu histórico e relacionamento mais profundo com Hillary. O presidente tampouco deseja alienar os eleitores progressistas que aderiram à candidatura de Sanders.

Obama reconheceu as queixas mais importantes que emergiram entre os ativistas democratas com relação a Hillary: a de que ela não vem despertando empolgação suficiente, com sua campanha, e que lhe falta a "autenticidade" de Sanders.

Os presentes descreveram o tom de Obama como de urgência, ao sugerir que os democratas precisam se unir a fim de impedir o surgimento de uma oportunidade que os republicanos, cujo principal candidato é Donald Trump, possam explorar.

Obama falou ao grupo quatro dias antes das disputas de terça-feira nas primárias, para as quais Hillary era a favorita. Ela venceu em pelo menos quatro dos cinco Estados que votaram –o resultado do Missouri ainda não saiu–, o que fez engordar ainda mais sua vantagem em número de delegados.

Obama indicou saber que algumas pessoas não estavam "empolgadas" com a candidatura de Hillary, confirmou o funcionário da Casa Branca. Mas embora enfatizasse que não estava endossando nenhum dos candidatos, e que os dois poderiam ser bons presidentes, Obama prosseguiu fazendo copiosos elogios a Hillary, descrevendo-a como inteligente, tenaz e experiente, e disse que ela continuaria o trabalho de sua administração. Sanders criticou o presidente de modo público por algumas de suas políticas, e vem apelando por uma "revolução política".

Obama disse compreender os atrativos de um candidato autêntico para os eleitores. Mas também lembrou os doadores texanos presentes à sala que Bush era considerado autêntico, quando disputou a presidência, e sugerindo que ser autêntico não se traduz necessariamente em ser um bom presidente, na opinião dele.

O evento de Austin foi organizado por Kirk Rudy, executivo do setor de imóveis, a fim de arrecadar fundos para o Comitê Nacional Democrata. Os participantes pagaram até US$ 33,4 mil por um ingresso.

Prévia da Eleição nos EUA

Sanders está tentando garantir aos seus partidários e ao público que continua em busca da presidência, apesar de suas chances escassas. Alguns de seus partidários se queixam de que o Comitê Nacional Democrata favoreceu Hillary na batalha.

Jeff Weaver, diretor da campanha de Sanders, e Tad Devine, o principal assessor do candidato, disseram a jornalistas na tarde de quarta-feira que acreditavam que o senador por Vermont ainda poderia recuperar a distância que o separa de Hillary em número de delegados. Acrescentaram que Sanders tinha boas expectativas no Arizona, Wisconsin, Idaho, Utah, Washington e Nova York.

"Estamos literalmente na metade do caminho", disse Weaver. Devine ecoou esses sentimentos. "Concordamos em que estamos em desvantagem, mas acreditamos que vamos sair vitoriosos", ele disse. "Os números não nos intimidam".

Os dois também disseram que seria injusto não permitir que eleitores de todos os Estados depositassem seus votos em Sanders, e que ele tinha dinheiro para continuar sua campanha até a convenção do Partido Democrata, na metade do ano.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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