Folha de S. Paulo


Morre ex-secretário geral da ONU Boutros-Ghali

O diplomata egípcio Boutros Boutros-Ghali, que foi secretário-geral das Nações Unidas entre 1992 e 1996, morreu na terça-feira (16) no Cairo aos 93 anos.

A causa de sua morte não estava clara até o encerramento desta edição, mas ele havia sido hospitalizado dias antes com uma fratura na perna, afirma a mídia local.

Sergei Supinsky - 28.jun.1993/Efe
O secretário-geral da ONU Boutros Boutros-Ghali
O secretário-geral da ONU Boutros Boutros-Ghali

Imediatamente após o anúncio da morte, o atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, divulgou uma nota elogiando a contribuição do diplomata ao organismo. Ele descreveu esse egípcio, um cristão, como alguém que "demonstrou coragem" durante um período turbulento.

Boutros-Ghali assumiu o posto no organismo entre grandes expectativas após o fim da União Soviética. Mas os anos de sua liderança coincidiram com uma série de tragédias internacionais que se colaram ao seu nome.

Ele foi secretário-geral, por exemplo, durante uma severa crise de fome na África e o genocídio em Ruanda, além do conflito na antiga Iugoslávia. Boutros-Ghali, ademais, é conhecido por seus embates com os EUA.

Sobre Ruanda, o diplomata foi acusado por seus detratores pelo fracasso em impedir o massacre da população. Ele também foi criticado por não pressionar o mundo o bastante por uma intervenção na guerra civil angolana.

Ele era descrito, também, como um "diplomata pouco diplomático", marcado pelo temperamento orgulhoso. Sobre a Bósnia, por exemplo, Boutros-Ghali afirmou que havia outros lugares no mundo com mais mortos.

Diante de protestos, em diversas ocasiões ele se dirigia às multidões enfurecidas para debater com elas, dizendo já estar acostumado a lidar com extremistas em seu país.

REESTRUTURAÇÃO

Neto de um ex-premiê egípcio assassinado, Boutros-Ghali nasceu em uma família cristã copta no Cairo em novembro de 1922. Formado pela Universidade do Cairo, onde lecionaria direito internacional, o diplomata egípcio tinha ainda doutorado no tema pela Universidade de Paris e estudou relações internacionais na Sciences Po.

Entre suas qualidades, repetidas durante o dia após sua morte, estava a sua habilidade de movimentar-se em diferentes universos. A nacionalidade egípcia lhe permitia transitar entre árabes e africanos, por exemplo.

Ele também foi responsável pela reestruturação das Nações Unidas, à época enfrentando problemas financeiros e entraves burocráticos.

Boutros-Ghali organizou campanhas de arrecadação de fundos para combater a fome na Somália, uma de suas ações mais memoráveis.

Ele será lembrado, além disso, pelo trabalho que fez antes de ocupar o cargo na ONU. O diplomata esteve envolvido com os governos dos presidentes egípcios Anwar Sadat e Hosni Mubarak -este último, deposto em 2011 após quase 30 anos no poder.

Boutros-Ghali acompanhou Sadat em 1977 em sua visita histórica a Jerusalém, que levou à paz com Israel.

O diplomata egípcio foi até hoje o único secretário-geral da ONU que não se reelegeu. Ele enfrentou dura pressão dos Estados Unidos à sua candidatura, e foi sucedido nesse cargo por Kofi Annan (1996).


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