Folha de S. Paulo


Oposição no Congresso dos EUA impõe entraves a acordo do clima

Segundo maior emissor de gases poluentes do mundo, atrás apenas da China, os EUA têm sido um dos principais promotores de um acordo ambicioso na COP21 para conter a mudança climática.

A campanha deve-se muito ao empenho de Barack Obama, que quer deixar o acordo como um de seus legados na Presidência.

Brendan Smialowski/AFP
O presidente dos EUA, Barack Obama, acena na inauguração da árvore de Natal da Casa Branca
O presidente dos EUA, Barack Obama, acena na inauguração da árvore de Natal da Casa Branca

Mas a ambição de Obama esbarra na disputa política em casa, onde a maior parte da oposição republicana não considera as mudanças climáticas uma ameaça real e promete vetar um tratado que inclua metas obrigatórias de redução de emissões.

Os republicanos não esperaram pelo desfecho da COP21 para marcar posição.

Horas após o presidente afirmar em Paris que os EUA liderariam o combate ao aquecimento global, a maioria republicana na Câmara aprovou na terça (1) duas resoluções para bloquear regras aprovadas pela Agência de Proteção Ambiental reduzindo emissões de carbono de centrais elétricas a carvão.

Foi um recado ao mundo de que os EUA estão divididos quanto ao tema, afirmaram os republicanos, que não pouparam críticas a Obama.

Praticamente sem chance de obter no Senado os 2/3 dos votos para aprovar um tratado internacional, Obama começou a defender um acordo híbrido, com algumas cláusulas vinculantes (com peso de lei) e outras não.

Conforme explicou o presidente, ainda que as metas de redução não tenham força de tratado, o procedimento de revisão periódica delas terá que ser vinculante.

A declaração atraiu críticas da oposição à manobra para driblar o Congresso. Especialistas citam casos em que a supermaioria poderia ser dispensada, mas um acordo com cláusulas vinculantes não escaparia desse aval.

"A lei permite que alguns acordos vinculantes sejam aprovados por uma maioria no Congresso e não por dois terços do Senado. A Parceria Transpacífica [acordo entre EUA e 11 países] é um exemplo", disse à Folha Michael Ramsey, professor de direito constitucional da Universidade de San Diego. "Mas o acordo climático provavelmente não será aprovado nem por uma maioria."

Por isso, Obama não tem intenção de submeter ao Legislativo o acordo negociado, seja qual for a sua natureza.

Ramsey observa que a Casa Branca também pode alegar que o Congresso já autorizou, no passado, presidentes a assumirem certos compromissos. Foi o caso da Convenção da ONU para Mudança do Clima, em 1992.

A opção mais provável para Obama é um "acordo executivo", como exigiria um tratado. A desvantagem é que o documento pode ser revogado pelo próximo presidente.

O risco mais imediato imposto pelos republicanos à COP21, contudo, é a ameaça de vetar a dotação de US$ 3 bilhões para o fundo de US$ 100 bilhões anuais até 2020, destinado a ajudar países pobres a se adaptarem às mudanças climáticas.

Para o advogado David Rivkin, Obama não tem condição de aprovar nada."Ele não tem autoridade política nem constitucional para fazer algo real em Paris. Toda essa história é uma farsa."


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