Folha de S. Paulo


Comissão foi acionada para investigar ataque dos EUA a hospital, diz MSF

A Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou nesta quarta-feira (14) que um organismo internacional foi acionado para investigar de forma independente o ataque aéreo dos Estados Unidos contra um hospital gerido pela organização na cidade de Kunduz, no Afeganistão.

O bombardeio, realizado em 3 de outubro, matou 22 pessoas, incluindo 12 agentes humanitários da MSF. A Força Aérea americana dava apoio ao Exército afegão para retomar o controle de Kunduz, que havia sido dominada pelo movimento radical islâmico Taleban.

Desde o ataque, a organização vinha exigindo que fosse instaurada uma investigação independente da Comissão Internacional Humanitária para a Apuração dos Fatos (CIHAF), instância criada sob a Convenção de Genebra para investigar violações às leis humanitárias.

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A MSF disse que o órgão, sediado na cidade suíça de Berna, foi acionado por um Estado, sem mencionar qual. Caso seja iniciada, esta seria a primeira investigação levada a cabo pela CIHAF desde sua criação, em 1991.

A intenção é que o órgão seja usado para recolher fatos e provas contra os Estados Unidos, a Otan (aliança militar do Ocidente) e o Afeganistão. Com o relatório pronto, a MSF decidiria se levaria ou não o caso ao Tribunal Penal Internacional.

"Este é o primeiro passo necessário para dar início a uma investigação independente sobre o ataque ao hospital da MSF em Kunduz", disse a organização em um comunicado.

Para proceder com a investigação, a CIHAF depende da autorização dos governos de EUA e do Afeganistão.

O ataque aéreo coordenado pelos EUA foi considerado um crime de guerra pela entidade. De acordo com a MSF, o hospital bombardeado era o único capacitado na região para tratar ferimentos graves. A destruição parcial do estabelecimento deixou dezenas de milhares de afegãos sem acesso a atendimento médico.

O governo americano reconheceu o erro disse ter agido a pedido da forças afegãs, embora a decisão final tenha sido tomada pelos americanos.

"O pedido de desculpas não muda nada, o que ocorreu é muito grave para relevar com um simples pedido de desculpas" disse à Folha Susana de Deos, diretora-geral da MSF no Brasil.

O Taleban informou que deixou totalmente Kunduz nesta terça-feira (13). A tomada da cidade, em 28 de setembro, representava uma importante vitória para a milícia desde que ela deixou o poder no Afeganistão, em 2001.

Onde fica Kunduz


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