Folha de S. Paulo


Preocupado com mau momento de Hillary, partido pensa em 'plano B'

Se um novo pedido de desculpas de Hillary Rodham Clinton, por conta do uso do seu e-mail privado, não conseguir tranquilizar os aliados nervosos, isso poderia amplificar a conversa entre alguns democratas que vêm procurando um salvador potencial para resgatar o partido da candidatura de Hillary, sitiada.

O vice-presidente, Joe Biden, o secretário de Estado, John Kerry, a senadora Elizabeth Warren, de Massachusetts, o ex-vice-presidente Al Gore: cada um desses nomes foi discutido entre os dirigentes do partido nas últimas semanas como uma alternativa a Hillary se ela não recuperar sua posição antes dominante no campo presidencial de 2016 e permanecer atolada na longa polêmica do e-mail, com suas investigações decorrentes.

Na segunda-feira (7), Biden, que falou publicamente sobre cogitar uma candidatura, se parecia muito com um candidato em uma reunião sindical de Pittsburgh e no desfile do Dia do Trabalho.

E alguns democratas ficaram intrigados com a história de que Kerry, o candidato democrata de 2004, teria se encontrado recentemente, em Nantucket, Massachusetts, com David M. Rubenstein, bilionário cofundador do Carlyle Group –o tipo de homem sábio de Washington que Kerry poderia consultar se estivesse pensando em uma nova candidatura. (Seus amigos dizem que não está.)

Não é apenas a debilidade de Hillary nas pesquisas que gerou a discussão de outras alternativas, mas também a força do senador Bernie Sanders, de Vermont, que vem rotineiramente atraindo multidões em eventos de campanha.

Isso tem sido desconcertante para os dirigentes democratas que acreditam que Sanders, um socialista, é tão liberal que sua presença na cabeça da chapa do partido em 2016 seria desastrosa.

"Se os líderes partidários enxergarem um cenário, no próximo inverno, em que Bernie Sanders tenha uma chance real de indicação democrata, acho que não há dúvida de que vão conversar com o vice-presidente Biden ou com o secretário de Estado Kerry ou mesmo com Gore para que entrem nas primárias", disse Garnet F. Coleman, legislador do Estado do Texas e integrante do comitê nacional do Partido Democrata.

Mesmo que nenhum desses democratas anuncie suas candidaturas no outono norte-americano, alguns dirigentes do partido e estrategistas sugeriram que Biden poderia estar preparando o terreno para uma missão de resgate de emergência durante as primárias de inverno, se a campanha de Hillary começar a implodir.

Da mesma forma, os amigos de Kerry dizem acreditar que ele ouviria os líderes partidários se Sanders aparecesse com possibilidades de ganhar a nomeação, e que implorariam a participação de Kerry, que teria de renunciar ao cargo de secretário de Estado para tentar bloqueá-lo.

O interesse em estadistas veteranos é em parte um reflexo da magra bancada democrata após perdas generalizadas em disputas para governador, Senado e outros postos em 2010 e 2014, o que deixou o partido com relativamente poucos candidatos presidenciais experientes e com credibilidade –e menos ainda são os que estão dispostos a enfrentar Hillary.

(A escassez de caras novas até deu origem a uma brincadeira no Twitter com a hashtag #Dukakis2016, propondo o nome do candidato do partido em 1988, o ex-governador de Massachusetts Michael S. Dukakis.)

Ainda assim, Biden, Kerry e Gore perderam candidaturas presidenciais antes e dificilmente são salvadores seguros do partido –ou mais populares do que Hillary entre grupos demográficos importantes, como as mulheres, os afro-americanos e os hispânicos.

Na verdade, em toda conversa sobre planos alternativos, Hillary continua a ser a principal candidata, e seus comentários na terça-feira, em uma entrevista à ABC News, e depois a mensagem enviada aos que a apoiam –dizendo "me desculpem" por utilizar um e-mail privado para tratar de temas de governo enquanto era secretária de Estado e classificando a decisão como "um erro"– podem ajudar a amenizar as preocupações sobre a sua candidatura entre alguns democratas.

Mas as conversas podem continuar se Hillary não recuperar rapidamente o equilíbrio.

"Você tem democratas que estão começando a entrar em pânico sobre a única coisa com que muitos deles nunca se preocuparam, que era a elegibilidade de Hillary na eleição geral", disse Robert Shrum, um estrategista veterano que foi um importante assessor de Gore e de Kerry durante suas candidaturas presidenciais.

"Ainda é preciso pensar nela como a provável favorita para a indicação democrata. Mas o desafio que ela enfrenta na eleição geral é tanto um problema de confiança como de simpatia."

Shrum recordou como a simpatia a Gore sofreu um golpe na campanha de 2000, quando, em um dos momentos mais recordados, ele foi ridicularizado por supostamente haver dito que inventou a internet –"mas não sua credibilidade fundamental, porque existe uma noção de que todos os políticos exageram".

Vários democratas disseram que Biden e Kerry estavam especialmente bem posicionados para entrar na corrida ao final, dada a experiência, o apoio do partido, as redes de captação de recursos e o reconhecimento de nome que tinham.

"Biden é o tipo de figura altamente respeitada e bem conhecida, que, se tivesse que entrar na disputa durante as primárias em uma espécie de emergência, poderia atrair um grande número de eleitores muito rapidamente", afirmou Jaime Harrison, presidente do Partido Democrata na Carolina do Sul.

Vários apoiadores de Hillary disseram que estavam confiantes em que seu trabalho árduo na campanha eleitoral acabaria por unir o partido.

"Apesar da mídia, acho que Hillary está muito forte. Ela vai ganhar Iowa e depois a nomeação e a Presidência", disse Jerry Crawford, um influente democrata de Iowa que trabalhou em nome de Kerry em 2004 e agora apoia Hillary.

"Os democratas que, em geral, são ranzinzas e mal-humorados tendem a dizer que estão com Sanders agora. Mas quando chegar a hora de decidir quem pode vencer a eleição geral, eles vão votar em Hillary."


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