Folha de S. Paulo


Ministro diz não ter por que Brasil apresentar agora metas sobre clima

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse, após se encontrar com o colega alemão, Frank-Walter Steinmeier, na manhã desta quinta (20), que o Brasil "não tem por que" apresentar agora suas metas para a 21ª Conferência do Clima da ONU (COP-21), que vai acontecer em Paris, em dezembro.

A chanceler alemã, Angela Merkel, chegou ao Brasil na noite desta quarta-feira (19) e foi recebida pela presidente Dilma Rousseff com um jantar no Palácio da Alvorada. Na manhã desta quinta, Dilma e Merkel se reuniram para uma reunião de trabalho no Palácio do Planalto e seguem para um almoço no Itamaraty.

Brasil e Alemanha divulgarão uma declaração, que, segundo Vieira, "mostra os pontos coincidentes dos dois países com relação à COP-21" e "estabelece plataformas comuns entre os dois países". No entanto, o texto não trará metas.

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 20-08-2015, 10h00: A Presidente Dilma Rousseff recebe a chanceler alemã Angela Merkel, que está em visita oficial ao Brasil, no Palácio do Planalto. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
A presidente Dilma Rousseff (à dir) recebe a chanceler alemã Angela Merkel em visita oficial

"Mas a Alemanha também não tem [metas]. Nós estamos trabalhando. O nosso INDC [Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas, as metas que devem ser apresentadas até outubro] está sendo feito", disse Vieira, acrescentando que o governo está fazendo o "sistema de consultas mais amplo o possível" para determinar as metas.

"Há um momento, uma data. Outubro é a data estabelecida pela ONU, não tem por que apresentarmos antes. Quando chegar essa data, nós apresentaremos."

Merkel quer intensificar a campanha entre os emergentes para evitar um fracasso na COP 21. O ministro brasileiro, contudo, descarta que tenha havido uma pressão alemã para que a declaração trouxesse as metas brasileiras. "Aliás, [não houve] de nenhum país."

"Temos uma declaração com os EUA, outra com o Japão, agora com a Alemanha. Então estamos conversando com os principais atores desse conjunto. O Brasil é um importantíssimo ator também, reconhecido por todos", disse Vieira.

As travadas negociações para o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia também foram debatidas no encontro dos dois ministros.

Vieira, contudo, disse ainda não haver data para apresentação das ofertas dos dois lados. Haverá uma reunião técnica no próximo mês.

"Transmitimos também ao ministro [das relações exteriores, Frank-Walter] Steinmeier a prioridade para o Brasil e para o Mercosul, e reiteramos a disposição de irmos juntos, que o Mercosul irá apresentar junto sua oferta no último trimestre do ano", afirmou.

'RELAÇÃO SÓLIDA'

Segundo o ministro, no jantar de ontem, primeiro encontro entre Dilma e Merkel, foram tratados temas da agenda bilateral e global. Ele destacou a importância da visita de Merkel, que veio ao Brasil acompanhada com metade de seu gabinete para uma visita de menos de 24 horas.

"Temos uma relação excelente e essa reunião é um exemplo. São 10 ou 12 ministros alemães e um grande número de ministros brasileiros reunidos para discutir esses temas, que vão do comércio, investimento, cooperação em ciência, tecnologia, inovação", disse.

Vieira ainda a "relação excelente" entre Brasil e Alemanha e a presença de peso de empresas do país europeu em território nacional –há cerca de 1.600 empresas alemãs instaladas no Brasil. "São Paulo é a maior cidade industrial alemã fora da Alemanha. É uma relação sólida, antiga."

A visita ocorre num momento sensível para os dois governos. Na Alemanha, Merkel enfrenta forte oposição dentro do próprio partido, o CDU (União Democrata-Cristã), por causa do terceiro pacote de ajuda à Grécia, de ¬ 86 bilhões (R$ 330 bilhões), aprovado ontem pelo Parlamento alemão.

A chanceler chegou a adiar em algumas horas o embarque ao Brasil para evitar que o Parlamento em Berlim votasse contra o socorro aos gregos.

Dilma, por sua vez, tenta usar a visita da poderosa líder europeia para mostrar prestígio externo num momento de fragilidade política.


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