Folha de S. Paulo


Em cena de chacina nos EUA, turistas ignoram tragédia

Havia 400 vigílias e marchas marcadas para ocorrer entre sexta (19) e domingo (21) em homenagem às nove vítimas da chacina em uma igreja da comunidade afro-americana de Charleston, na Carolina do Sul, mortas na noite de quarta (17) por um homem branco.

Mas, com exceção de alguns quarteirões ao redor da Igreja Metodista Emanuel, alvo do ataque, e de outras igrejas negras, a cidade turística exibe poucos sinais de luto.

Segundo maior destino de festas de casamento no país, conforme a prefeitura local, a cidade manteve as diversas celebrações em hotéis no centro histórico, misturadas aos milhares de turistas de chinelo e shorts que circulavam nas ruas estreitas ao sol de 41ºC.

Sob críticas de algumas lideranças religiosas, donos de bares e restaurantes, que continuaram com música alta menos de 48 horas após a tragédia, lançaram uma campanha para doar até 20% da renda de seus estabelecimentos no fim de semana aos familiares das vítimas e às obras da centenária igreja.

Parte da mídia americana tem questionado por que a chacina parece ter causado menos comoção que outras tragédias recentes. Ao contrário do atentado terrorista em Boston, que deixou três mortos e dezenas de feridos e passou semanas como o principal assunto de telejornais e nas redes sociais, a chacina em Charleston já sumiu de parte dos telejornais.

Moradores e turistas se ajoelhavam diante da igreja Emanuel e rezavam. Buquês dourados, uma cruz de madeira, flores e laços com os nomes das vítimas formavam o memorial improvisado.

Às 10 da manhã deste domingo, dezenas de igrejas da cidade baterão os sinos ao mesmo tempo pelos mortos.

Em uma cidade sem prédios altos, onde a maioria das construções não supera dois andares, as torres das igrejas marcam a linha do horizonte –são 400 templos para 120 mil habitantes na na chamada "cidade sagrada", 40 deles erguidos antes de 1900.

Se em Charleston e na mídia o atentado parece já ter sido superado por alguns, o assunto virou tema controverso na nascente campanha eleitoral para a sucessão de Barack Obama, em 2016.

O pré-candidato republicano Jeb Bush, irmão e filho de ex-presidentes, disse que "não sabia" se o atentado tinha motivação racial.

Já a favorita democrata, Hillary Clinton, disse que o país precisava de uma conversa "franca" sobre racismo e armas. Vários pré-candidatos republicanos criticaram o presidente Obama por questionar a facilidade com que se vendem armas no país.

PARENTES PERDOAM

Dylann Roof, 21, assumiu a autoria do atentado à polícia de Charleston.

Em um curto depoimento, disse que "quase abandonou sua missão" de matar os participantes de um grupo de estudos da Bíblia "porque eles foram muito legais" –ele passou quase uma hora no local antes de começar a atirar.

Familiares das vítimas foram convidados a assistir ao depoimento por um telão. Elas puderam falar, via teleconferência, com Roof.

Vários deles afirmaram que perdoavam o assassino e que pediam que Deus o perdoasse também, enquanto choravam e lamentavam que jamais poderiam voltar a abraçar as vítimas.


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