Folha de S. Paulo


Farc negam violar trégua e criticam Colômbia por retomar ataques

Líderes da guerrilha marxista das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colombia) criticaram nesta quinta-feira (16) o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, por ter ordenado a retomada dos bombardeios a acampamentos rebeldes.

Os guerrilheiros negaram ter violado a trégua unilateral com o governo em ataque desta quarta-feira (15) no departamento de Cauca, no sudoeste da Colômbia, que matou 11 soldados e deixou 20 feridos.

"A solução não é retomar os bombardeios. Na Colômbia, estão bombardeando desde o início da guerra [o conflito entre as Farc e o governo tem 50 anos], e por acaso isso serviu para algo? Só para aumentar o número de mortos", disse Pablo Catatumbo, líder da guerrilha e um dos participantes das negociações de paz com o governo colombiano em Havana (Cuba).

As Farc disseram lamentar as mortes dos soldados, mas alegaram que o ataque foi uma "ação defensiva" e que isso não implica o rompimento do cessar-fogo.

"Houve um enfrentamento militar, fruto de um cerco do Exército que não é de agora, já dura quatro meses", declarou Catatumbo sobre o incidente, considerado um dos mais graves desde o início das conversações entre governo e guerrilha, em novembro de 2012.

Santos não havia aceitado a trégua unilateral proposta pelas Farc –mas, como gesto de paz, ordenou em 10 de março que os bombardeios aos acampamentos dos guerrilheiros fossem suspensos por um mês.

No dia 10 de abril, o presidente prorrogou a medida, anulada nesta quarta-feira depois do novo ataque das Farc.

"Isso está gerando uma situação muito complicada nas negociações", afirmou Catatumbo. Segundo o guerrilheiro, Santos inicialmente reagiu com cautela às mortes dos militares, mas depois determinou a retomada dos ataques aéreos "pressionado" pelos opositores do processo de paz.

Apesar do reavivamento do conflito, as delegações do governo colombiano e das Farc em Havana continuam trabalhando em um plano de desarmamento.

RAIVA

Também nesta quinta, Juan Manuel Santos disse ter sentido "raiva" com a notícia da morte de militares pelas Farc e afirmou que procurou reagir como chefe de Estado, sem se deixar levar pelas circunstâncias.

"Pensei: 'Como reagir a essa situação e aos sonhos que tenho de chegar à paz? Como não morrer de raiva ao saber desses soldados assassinados?'", indagou o presidente, em uma tentativa de se defender das críticas internas à sua negociação com a guerrilha.

O comandante do Exército colombiano, general Jaime Lasprilla, foi enfático ao dizer que o ataque contra os soldados, que dormiam em um ginásio para se proteger da chuva, foi uma ação "premeditada, planejada e deliberada".

Desde seu início, há cinco décadas, os conflitos entre as Farc e o governo da Colômbia deixaram no país cerca de 220 mil mortos e desalojaram mais de 5 milhões de pessoas.


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