Folha de S. Paulo


Europa precisa 'fazer mais' na Ucrânia, afirma chanceler lituano

A Europa precisa ampliar o apoio militar à Ucrânia e tentar isolar o regime de Vladimir Putin na Rússia com o apoio da comunidade internacional, sob pena de ver as suas fronteiras redesenhadas ao gosto do Kremlin.

Esta é a mensagem que o chanceler da Lituânia, Linas Linkevicius, trouxe na bagagem para sua visita ao Brasil. Ele faz visita oficial a Brasília nesta quarta (8), e estará em São Paulo, que abriga 250 mil descendentes de lituanos, na quinta (9).

Niu Xiaolei - 23.fev.2015/Xinhua
Chanceler da Lituânia, Linas Linkevicius (centro), fala durante encontro na ONU em fevereiro
Chanceler da Lituânia, Linas Linkevicius (centro), fala durante encontro na ONU em fevereiro

O país báltico é também o que possui a menor população russa étnica, cerca de 6% dos 3 milhões de habitantes, o que facilita a retórica mais agressiva. Na vizinha Letônia, o grupo compõe quase 27% da população, sendo quase 25% no terceiro Estado da região, a Estônia.

Primeiros países a romperem com a União Soviética, há um quarto de século, os Estados Bálticos temem ser a próxima "bola da vez" no jogo geopolítico de Putin.

Por terem minorias significativas de russos étnicos, há o medo de que Moscou incentive grupos separatistas como ocorre na Ucrânia —país que entrou em guerra civil após um golpe derrubar o governo pró-Kremlin, em 2014.

"Não estamos fazendo o suficiente, precisamos de mais alternativas. Precisamos fazer mais. O apoio dado ao Exército ucraniano é muito fraco, as milícias pró-Rússia são mais bem equipadas que muitas Forças Armadas europeias", afirma Linkevicius a respeito da guerra suspensa de forma precária por um acordo de paz no país vizinho.

Uma diferença fundamental, que Linkevicius reconhece, é o fato de que os bálticos são integrantes da Otan, a aliança militar do Ocidente. Assim, a chance de um embate direto com forças russas ou pró-Rússia são bem menores, sob risco de uma escalada potencialmente apocalíptica.

"Mas podemos ser atacados de outras formas, por meio de ciberterrorismo, pelas disputas energéticas", ponderou o chanceler.

A Lituânia dependia, até o ano passado, integralmente do gás russo para sua matriz de energia.

Isso mudou com a instalação de um terminal flutuante de gás liquefeito de petróleo no porto de Klaipeda, que permite a importação via mar de outras fontes que não a Rússia. "Agora podemos negociar com todo mundo com base no preço, inclusive a Gazprom (estatal russa de gás)", afirmou.

Editoria de arte/Folhapress
ESTADOS DO BÁLTICOPaíses da região ficaram sob domínio soviético por 50 anos

Linkevicius afirma que é impossível e nem mesmo desejável um rompimento total com a Rússia, mas acredita que Putin precisa ter seus movimentos restringidos. Defende, além de maior apoio militar aos ucranianos, mais sanções econômicas e isolamento político do russo.

"Ele não pode sair em fotografias pelo mundo como se tudo estivesse dentro da normalidade", afirmou. Questionado se levaria essa questão ao seu colega brasileiro, Mauro Vieira, foi diplomático. "Não estamos aqui para dizer como os outros devem se comportar, mas sim que as ações russas são inaceitáveis", afirmou.

O Brasil, como se sabe, é parceiro do Kremlin no grupo Brics, e tem sido reticente em seus comentários sobre a crise na Ucrânia.

O chanceler também trouxe uma comitiva de empresários para tentar vender a imagem de seu país como um polo de alta tecnologia, com quem se pode fazer bons negócios.

O comércio bilateral hoje é irrisório, com um superávit de US$ 8,8 milhões em favor do Brasil, numa corrente comercial de US$ 77 milhões —dentro de um universo de US$ 454 bilhões em trocas com o mundo em 2014.


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