Folha de S. Paulo


Putin diz que assassinato de adversário foi politicamente motivado

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou nesta quarta (4) que o assassinato do opositor Boris Nemtsov, na semana passada, teve motivação política. Ele criticou o que chamou de "nacionalismo beligerante".

Para o dirigente russo, o crime é uma "vergonha" e uma "tragédia" para o país.

"Os extremistas ferem a sociedade com o veneno do nacionalismo beligerante, a intolerância e a agressão. Vemos claramente no exemplo da vizinha Ucrânia o que isso pode provocar", afirmou.

Putin tem dito que extremistas apoiados pelo governo ucraniano são os responsáveis pelo agravamento no conflito no leste do país contra separatistas pró-Moscou.

A declaração de Putin foi dada no Ministério do Interior e transmitida pela TV.

"Precisamos livrar a Rússia da vergonha e da tragédia desse tipo de crime que recentemente vimos: falo do audacioso assassinato de Boris Nemtsov, bem aqui no centro da cidade" afirmou.

Antes desse comentário, ele havia, por meio de um porta-voz, condenado o crime e prometido uma investigação séria.

Suas declarações desta quarta se destacam porque os aliados de Nemtsov, 55, morto a tiros na noite de sexta-feira (27) perto do Kremlin, acusam justamente Putin de usar discurso nacionalista para incitar a perseguição contra adversários do governo, sob o argumento de que são traidores da pátria.

Mesmo que o presidente não tenha qualquer ligação direta com o crime, sua atitude, segundo a oposição, pode ter inspirado a ação que levou à morte de Nemtsov, um dos seus principais críticos nos últimos anos.

Os opositores temem que os investigadores russos, subordinados a Putin, busquem elementos que desvinculem o assassinato de uma retaliação ao posicionamento de Nemtsov.

O político estava preparando relatórios sobre o apoio russo aos separatistas da Ucrânia e pode ter sido morto por causa desses documentos, segundo disse nesta quarta Ilya Yashin, amigo de Nemtsov.

HOMENAGENS

Até agora, pouca informação foi divulgada sobre os suspeitos do crime. As autoridades têm dito que trabalham com várias hipóteses, inclusive a ação de islâmicos extremistas. Afirmam que identificaram possíveis envolvidos e estão analisando imagens registradas na região do crime. Mas nada mais concreto.

Nemtsov foi enterrado na terça-feira (3) sob gritos de "Rússia sem Putin". Dois dias antes, uma multidão foi às ruas do centro de Moscou homenageá-lo e protestar.

Nesta quarta-feira, a reportagem da Folha retornou ao local onde Nemtsov foi morto: uma ponte a apenas 200 metros do Kremlin.

Não só o ponto exato dos tiros tem recebido homenagens, como pelo menos metade da ponte foi coberta por flores, fotos e cartazes.


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