Folha de S. Paulo


Republicanos criticam discurso de Obama, que desconsidera derrota

Confiante e desafiador, o presidente dos EUA, Barack Obama, apresentou durante seu principal discurso do ano, na terça (20), propostas voltadas para a classe média norte-americana e afirmou que "a sombra da crise passou".

Com a popularidade em alta -os índices são os maiores desde 2013, segundo o "Washington Post"-e bons resultados econômicos, Obama ignorou a derrota sofrida nas eleições legislativas, que garantiu aos republicanos o controla da Câmara e do Senado, afirmam analistas.

"O partido dele acaba de sofrer uma derrota histórica nas eleições, o terrorismo islâmico está em marcha e seus índices de popularidade permanecem inexpressivos. E, ainda assim, o discurso de Obama sugere que ele está no topo do mundo", disse o historiador Timothy Stanley à CNN.

Larry Downing/Reuters
Barack Obama faz o discurso do Estado da União, na noite de terça, à frente de seu vice e do presidente do Congresso, John Boehner
Barack Obama faz o discurso do Estado da União, na noite de terça-feira, no Congresso americano

Obama usou o discurso do Estado da União para dar o pontapé inicial à campanha presidencial de 2016 -em que seu partido deve ser representado pela ex-secretária de Estado Hillary Clinton.

Mas, na prática, é pouco provável que os projetos de lei apresentados pelo presidente sejam aprovados.

"Foi simplesmente um duelo das filosofias básicas de cada um dos dois partidos", disse Ron Haskins, do Instituto Brookings. "Com base nos confrontos convocados pelo discurso do presidente, quase todas as suas propostas serão rejeitadas pelos congressistas."

No centro das propostas apresentadas pelo presidente na terça está um aumento de impostos dos mais ricos e de grandes instituições financeiras, que geraria US$ 320 bilhões em novas receitas para o governo em dez anos.

A elevação compensaria um aumento de gastos sociais, como o ensino superior gratuito para os mais pobres, e desonerações tributárias para a classe média.

"Seria difícil criar um conjunto de medidas mais inconsistente com as prioridades do Partido Republicano", afirmou Haskins.

Nesta quarta, congressistas republicanos já sinalizaram que deve haver pouco consenso entre o partido e Obama.

"Tudo o que o presidente realmente ofereceu foram mais impostos, mais participação do governo, mais da mesma estratégia que falhou para a classe média por décadas", afirmou o presidente da Câmara, John Boehner.

IRÃ E ISRAEL

Durante o discurso de terça, o presidente ameaçou vetar projetos de lei do Congresso que retrocedam em conquistas de seu governo e também que insistam em novas sanções contra o Irã.

De acordo com Obama, novas medidas contra Teerã poderiam atrapalhar as negociações em andamento sobre o programa nuclear do país.

Em reação ao presidente, Boehner convidou nesta quarta o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, para falar ao Congresso sobre o assunto, em fevereiro, sem consultar a Casa Branca.

"Neste momento de desafio, convido o premiê a se dirigir ao Congresso sobre as graves ameaças que o radicalismo islâmico e o Irã impõem à nossa segurança e ao nosso modo de vida", escreveu o republicano em carta enviada ao político israelense.


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