Folha de S. Paulo


Divergência marca encontro histórico entre EUA e Cuba em Havana

A primeira etapa do histórico encontro entre altos representantes das diplomacias americana e cubana em Havana mostrou que a reaproximação entre os dois países -anunciada pelos dois governos em dezembro passado- enfrentará importantes obstáculos pela frente.

Nesta quarta-feira (21), Alex Lee, o principal assessor para assuntos de Cuba da subsecretária de Estado Roberta Jacobson, disse à contraparte do regime de Raúl Castro que seu governo não tem interesse em alterar as concessões que hoje são feitas a imigrantes cubanos que chegam ao país.

A reunião, cujo foco foi imigração, antecedeu ao encontro desta quinta-feira (22) entre Jacobson, a principal diplomata dos EUA para o continente americano, e altos representantes do regime. Ela é a primeira subsecretária americana a visitar a ilha em 38 anos.

"Explicamos à administração cubana que o nosso governo está totalmente comprometido em manter o Ato de Ajuste Cubano [1966], que estabelece as políticas relacionadas à migração, coloquialmente conhecidas como pé molhado/pé seco", disse Lee.

Essa política determina que imigrantes cubanos capturados ainda no mar serão enviados de volta à ilha, mas os que conseguirem "pisar" em território americano poderão ficar. Depois de um ano vivendo no país, os cubanos já podem solicitar seu green card (visto de residência permanente).

Imigrantes de outras nacionalidades, capturados nas mesmas circunstâncias, são deportados.

A representante da Chancelaria cubana no encontro, Josefina Vidal, reiterou a oposição de seu governo à política migratória dos EUA. Segundo ela, a posição americana incentiva a imigração ilegal, o tráfico de pessoas e viagens perigosas pelo mar.

"A persistência [dessas políticas] contradiz os acordos migratórios no texto e no espírito", disse Vidal. Ela também criticou o estímulo, pelos EUA, à deserção de médicos cubanos em terceiros países.

RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS

Essa foi a primeira divergência identificada no processo de reaproximação entre os dois países. Nesta quinta, Jacobson discutirá com o regime cubano temas ligados à futura reabertura das embaixadas -ponto mais alto na retomada das relações diplomáticas.

"A agenda incluirá arranjos técnicos e logísticos como a operação da embaixada, quadro de funcionários e processo de visto", diz a nota divulgada pelo Departamento de Estado.

Apesar das demonstrações de boa vontade dos dois lados, os EUA já advertiram que manterão seu "compromisso" com os direitos humanos em Cuba. Jacobson, inclusive, se reunirá com dissidentes num almoço na sexta-feira (23) em Havana.

Para Cuba, dois temas são importantes na reaproximação: a retirada do país da lista de financiadores do terrorismo e a suspensão do embargo econômico à ilha.

A resolução do primeiro já estaria "em processo", segundo Washington.

O fim do embargo, contudo, é mais difícil de ocorrer, pois depende da aprovação do Congresso americano -hoje dominado pela oposição.

Na noite de terça (20), o presidente Barack Obama, em seu discurso do Estado da União, disse que os parlamentares deveriam iniciar neste ano os trabalhos para acabar com o embargo. "Nossa mudança na política com Cuba tem o potencial de acabar com um legado de desconfiança no continente", disse Obama.


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