Folha de S. Paulo


Cristina cria novo medidor de audiência

Em guerra com a mídia privada, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, decidiu investir na criação de um sistema estatal de medição da audiência da TV.

O novo índice será feito por uma rede de 11 universidades, o Sifema (Sistema Federal de Medição de Audiência). Os dados devem começar a ser publicados em 90 dias.

A presidente afirmou que o que está em jogo é a publicidade. "No ano passado, as empresas privadas gastaram 31 bilhões de pesos (valor próximo a R$ 8 bilhões) que foram parar com os grandes meios concentrados", disse.

Hoje, só a empresa de origem brasileira Ibope mede a audiência das TVs. O líder é o Telefe, do grupo Telefônica. Em segundo, está o Canal Artear, do Grupo Clarín. Em terceiro está a TV Pública, que é estatal.

Marcelo Escolar, da Universidade de San Martin, está à frente do Sifema e afirma que o sistema dele irá contemplar o país inteiro (o Ibope mede a audiência em nove cidades argentinas).

Isso animou Facundo Agrelo, coordenador de conteúdo do canal infantil de TV paga Paka Paka, vinculado ao Ministério da Educação.

Ele diz que o que interessa é a medição "em todo o país, onde a única empresa que mede o 'rating' não chega".

Afirma ainda que o Ibope está sendo "ideologicamente questionado", pois é uma empresa e busca lucro.

Mas não é só a publicidade das empresas privadas que é debatida: no ano passado, o governo gastou 1,39 bilhão de pesos (cerca de R$ 376 milhões) em anúncios, segundo a Fundação LED (Liberdade de Expressão e Democracia).

Em fevereiro, o governo perdeu uma disputa na Suprema Corte para o Artear, que reclamou da falta de verba publicitária oficial –de 2012 até este ano, o governo não comprou inserções no canal, exceto quando obrigado.

Para os opositores, o Sifema é uma tentativa do governo de seguir sem comprar publicidade nos meios com os quais tem desentendimentos.

"O governo não está disposto a obedecer [a decisão da Justiça] e prefere criar um sistema que distorce a realidade e, assim, justifique sua arbitrariedade. É o mesmo mecanismo que usou com o sistema de estatísticas desde 2007 para manipular dados de inflação e pobreza", diz Silvana Giudici, da Fundação LED (Liberdade de Expressão e Democracia).

Giudici já foi deputada e faz oposição ao governo.

Martin Etchevers, do Grupo Clarín, afirma que "os anunciantes privados são rigorosos e vão buscar validar o mecanismo de medição estatal". "Não posso afirmar ainda que o Sifema será usado para legitimar a canalização das verbas oficiais de publicidade. Mas esse governo tem antecedentes em manipulação de estatísticas".

Escolar, que está à frente do Sifema, repudia a acusação: "O consórcio é formado por universidades autônomas, que não são controladas pelo governo. Além disso, vamos ser auditados".


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