Folha de S. Paulo


Turcos fazem greve geral após acidente em mina que deixou 283 mortos

O principal sindicato da Turquia convocou uma greve nesta quinta-feira como forma de protestos pelo acidente na mina de carvão de Soma, que teve o balanço atualizado para 283 mortos, uma tragédia que provocou indignação no país.

"Os que continuam com as privatizações, colocando em perigo a vida dos trabalhadores para reduzir os custos, são os culpados do massacre Soma", afirmou a Confederação de Sindicatos de Trabalhadores Públicos da Turquia (KESK).

"Os responsáveis devem prestar contas", completou a KESK, que representa 240 mil trabalhadores.

CONFRONTOS

As forças de segurança usaram gás lacrimogêneo para dispersar 20 mil manifestantes que denunciavam em Izmir, oeste do país, o que consideram uma grave negligência industrial do governo.

Kani Beko, presidente do DISK (Confederação dos Sindicatos Revolucionários da Turquia), um dos principais sindicatos do país, foi hospitalizado após repressão policial.

Em Ancara, a polícia usou gás lacrimogêneo e jatos de água para dispersar 200 pessoas concentradas na praça Kizilay.

"Isto não é um acidente nem o destino, é um massacre", afirmava uma faixa exibida por um sindicalista

MINEIROS

O desespero e a revolta aumentam à medida que diminui a esperança de resgatar com vida as dezenas de mineiros que permanecem soterrados na mina de carvão de Soma, cidade da província de Manisa (oeste).

"Temos 282 mortos", anunciou o ministro da Energia, Taner Yildiz.

Segundo as autoridades, quase 90 trabalhadores ainda estariam na mina, mas as possibilidades de encontrar sobreviventes são praticamente nulas.

"Não retiramos mineiros com vida nas últimas 12 horas", disse Yildiz.

O ministro explicou que os serviços de resgate ainda não conseguiram acessar duas galerias afetadas.

Na quarta-feira, milhares manifestantes enfrentaram a polícia em Ancara e Istambul.

Os manifestantes acusaram o governo e a indústria da mineração de negligência.

INVESTIGAÇÃO

O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan prometeu investigações sobre a tragédia, mas rebateu as acusações ao governo. Ele disse que "estes acidentes acontecem".

A grande explosão de terça-feira teria sido provocada por uma falha elétrica.

Na quarta-feira, o primeiro-ministro deu a impressão de que desejava minimizar a gravidade do acidente, ao compará-lo a desastres no setor de mineração em outros países, quando disse que "204 pessoas morreram no Reino Unido em 1862 e 361 pessoas em 1864".

Centos de familiares e amigos de vítimas que estavam perto do local onde Erdogan concedeu a entrevista manifestaram indignação. Algumas pessoas atacaram o veículo do premier e o chefe de Governo buscou refúgio em uma loja.

Um assessor de Erdogan foi fotografado agredindo um manifestante, o que provocou uma grande revolta nas redes sociais.

A revolta popular também foi observada nas ruas.

A polícia usou gás lacrimogêneo e jatos de água para dispersar mais de 3.000 manifestantes na praça Kizilay de Ancara, assim como milhares de manifestantes em Istambul.

A catástrofe aumentou a pressão sobre Erdogan, que enfrentou grandes protestos no ano passado e um gigantesco escândalo de corrupção que envolveu seus familiares e aliados nos últimos meses.


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